Ronaldo Albertino

Depois de passada a catástrofe econômica, a hora em que voltarmos a colocar as coisas nos devidos lugares onde estavam, certamente os lugares terão mudado e a nossa ótica para os negócios, por certo, também terá mudado.

Não acredito que pratiquemos as nossas atividades na indústria hoteleira como vínhamos praticando, os líderes do mercado correrão atrás da automação e vão usar e abusar da Inteligência Artificial (IA).

A coincidência da chegada do 5G apressará as metas que estavam programadas para daqui a cinco anos, ainda que os testes sejam no dia a dia e sujeitos a erros (“bugs” como dizem os técnicos), a pressa em implementar novas tecnologias será imensa. 

Os motivos ficaram claros na pandemia, ainda que se tenham identificado o público de alto risco, todos paramos e a maioria esmagadora dos hotéis pararam. O fluxo turístico tendeu a
zero e a indústria do turismo entrou em colapso. 

Já vínhamos trabalhando com uma linha de tendência mundial de mais produto do que serviço, começando pelas categorias econômicas hoteleiras. A importância das instalações foi a tônica nos últimos cinco anos, mais design, mais comodidades e agora será a onda dos serviços, menos gente fazendo mais e melhor, num setor que carece de produtividade e, consequentemente, maior
retorno sobre o investimento. 

Mas esse “menos” gente é uma incógnita enorme, a tecnologia vai mesmo acabar com tantos empregos assim? O que farão as pessoas que não têm condições de acompanhar o avanço tecnológico e nem tempo para se reciclar?

Em poucos anos as recepções dos hotéis, realmente, serão totalmente automatizadas? E os robôs de limpeza (que diga-se de passagem, já uso na minha casa), diminuirão o número de camareiras por apartamento existente? 

Para aqueles que querem se aprofundar na questão, sugiro a leitura da obra 21 lições para o século 21, de Yuval Noah Harari, editora Cia das Letras, é uma obra prima sobre o tema e aborda diretamente como as cabeças mais brilhantes do mundo estão vendo este novo cenário. 

É preocupante sim, mas para agora? Bem, não para este ano, mas para os próximos, sem dúvida. 

Outra característica associada à nova tendência, será a relação trabalhista, não é possível tantos encargos trabalhistas para o empregador e para o profissional, simplesmente essa carga terá que ser repensada, chegamos ao limite e não é possível ter o governo sugando recursos que deveriam ser compartilhados unicamente entre as partes interessadas e não com um terceiro inerte e sangue suga. 

E a produtividade?

Novas métricas de avaliação de performance serão bem-vindas, o trabalhador brasileiro é um dos mais improdutivos (e simpáticos) se comparado com seus pares no cenário internacional. 

Recentemente estive falando com um alto executivo responsável pelos recursos humanos de uma multinacional estabelecida em mais de 100 países. Ele me disse que na Inglaterra, por exemplo, a mão de obra para hotelaria está cada vez mais nas mãos de estrangeiros, e cada vez menos o inglês quer atuar nesta área. Eles, os estrangeiros, têm mais garra e se “submetem” ao trabalho que o nativo não quer. Já começa a acontecer isso no Brasil? Ainda é insignificante o percentual de estrangeiros atuando em nossa área por aqui, mas vai aumentar, é natural com a globalização e oportunidade de emprego qualificado. 

Veja o mercado de tecnologia, hoje há um apagão de mão de obra neste segmento no Brasil, os bons profissionais foram para fora e as empresas disruptivas e inovadoras têm problema para aumentar o seu share, seu mercado, em função desta defasagem. 

De um lado a tecnologia, propiciará redução da mão de obra na indústria hoteleira e, ironicamente, há falta mão de obra na área de tecnologia. Resumo: teremos que repensar os nossos conceitos de produtividade, seremos obrigados a trabalhar em termos de projeção de gastos, e não mais em orçamento, porque a estimativa de receita é uma incógnita. 

Os fornecedores terão que se adaptar à nova realidade financeira de recuperação. Os profissionais terão que estar abertos a novas relações de trabalho. Os clientes estarão sensíveis a preço como nunca. 

Ao mesmo tempo as previsões para 2021 são as mais otimistas, espera-se um PIB de -0,7% para 2020 e de robustos 5,5% para 2021.

Precisamos crescer, melhorar os nossos processos, produtos e serviços, para trilhar a ponte de 2020 visando chegar em 2021 preparados para a retomada. 

Pois é, as coisas não serão como antes.

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Ronaldo Albertino está há 38 anos na indústria hoteleira, atualmente é diretor da HotelCare, com atuação em desenvolvimento hoteleiros e relacionamento com investidores. Participou no desenvolvimento, implantação e pré-operação de mais de 30 projetos hoteleiros no Brasil e exterior. Ex-professor de graduação e pós no SENAC CEATEL, com cursos de especialização na ISAE/FGV. Especialista em criação, desenvolvimento, implantação e operação de marcas hoteleiras.

(*) Crédito da foto: divulgação/Ronaldo Albertino