sexta-feira, 5/setembro
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SAHIC vai do all-inclusive ao midscale em 2º dia de palestras

Aberta ontem (24), a 19ª edição do SAHIC Latin America and The Caribbean chegou ao fim hoje (25). Promovido no Fairmont Copacabana, o evento retornou ao Brasil após 16 anos. No segundo dia do encontro, a grade de palestras e conteúdos navegou por diferentes temas — como resorts all-inclusive, desafios e oportunidades para o turismo latino-americano e hospitalidade midscale.

No painel All-Inclusive 2.0: redefinindo a experiência do hóspede para a próxima geração, um time de seis executivos explorou a evolução do segmento e perspectivas para o modelo de hospedagem. Participaram do debate Fernando Fernandez, VP de Desenvolvimento Inclusive Collection da Hyatt Hotels; Guilherme Cesari, head de Desenvolvimento da Accor Américas Luxo & Lifestyle; Fernanda Brunetta, diretora sênior de Aberturas e Integrações Latam da Wyndham Hotels & Resorts; Paula Muñiz, head de Desenvolvimento no Brasil d Meliá Hotels; Joanna Ayala, diretora de Desenvolvimento para América Latina e Caribe da Marriott International; e Osvaldo Chudnobsky, managing partner Brazil da Horwath HTL.

Fernandez fez uma retrospectiva no SAHIC da história do segmento, quando os resorts all-inclusive ainda eram direcionados a empreendimentos de categorias econômicas e médias. “As bebidas não eram de marcas premium e as pessoas não tinham muita confiança nesse tipo de hospedagem. Criamos um produto de luxo que revolucionou de maneira drástica o segmento, e isso foi sentido nos GOPs, ocupação e retornos de investimentos”, avaliou o executivo da Hyatt.

A painelista da Wyndham destacou a previsibilidade de custos como um dos pontos positivos do modelo de negócios e trouxe reflexões sobre as mudanças no comportamento do consumidor. “Os clientes querem uma experiência completa e fácil. As pessoas estão buscando por isso em suas viagens. Elas querem experiência, mas ao mesmo tempo, qualidade”, disse Fernanda.

A executiva também pontuou a necessidade de olhar para práticas sustentáveis no segmento. “Hoje, temos resorts premium e midscale. É um setor que está apontando para iniciativas mais ecológicas. As pessoas querem experiências mais autênticas, então, estamos incorporando produtos locais para oferecer esse tipo de hospedagem aos turistas que visitam o destino”.

Sobre as praças que fazem sentido para o desenvolvimento desse perfil de empreendimento, Fernanda listou o México e Caribe como líderes no segmento. “Também vemos potencial no Nordeste brasileiro, Argentina, Costa do Pacífico no Peru e Chile”.

A evolução do all-inclusive

Paula relembrou que a Meliá Hotels foi uma das pioneiras no segmento. Quando a rede espanhola desenvolveu seus primeiros empreendimentos all-inclusive, o foco era a categoria econômica. “Era uma tendência na época. Agora, vemos resorts de luxo voltados para experiência. Contamos com nove marcas, presença global, mas nossos resorts estão mais concentrados no Caribe”.

A Accor estruturou sua oferta no segmento em 2017. Cesari salientou que a rede francesa já contava com propriedades do modelo em diferentes regiões globais, mas que a virada de chave veio com a compra da Rixos Hotels.

“Desde então, creio que somos o segundo maior operador de all-inclusive do mundo. Nosso portfólio está concentrado na China, Oriente Médio, África, além de empreendimentos na Europa, com crescimento no México e no Caribe”, pontuou o executivo.

Cesari salientou que o grupo quer desenvolver esse perfil de propriedade na América do Sul, com foco no Nordeste brasileiro e na Colômbia. “Temos marcas dedicadas ao all-inclusive, como Sofitel, Fairmont e Rixos. Também estamos começando projetos com bandeiras premium, como Pullman”.

O all-inclusive é outro segmento que vive a tendência de projetos alinhados com residenciais. Na Marriott, Joanna explicou que esse tipo de empreendimento faz sentido para desenvolver novos resorts. “É essencial para o crescimento da hotelaria e uma solução para financiar projetos. Firmamos contratos de hotéis com residenciais com a marca Ritz-Carlton”.

SAHIC - midscale
Executivos debateram o mercado midscale

Midscale em discussão

Seguindo com a programação do SAHIC, o painel Hotéis de categoria midscale: impulsionando o crescimento na hospitalidade acessível explorou as oportunidades em uma das categorias que mais se destacam no mercado latino-americano. O debate desenvolveu reflexões sobre a expansão do segmento na região

Participaram do bate-papo Claudia Piña, gerente de Desenvolvimento da Accor para a Colômbia, Peru e Equador da PM&E Division; Armando Ramirez, diretor de Desenvolvimento da Wyndham para Argentina, Brasil e Paraguai; Juan Paredes, diretor de Desenvolvimento da Marriott International para América Latina e Caribe; Richard Rehwaldt, vice-presidente para a América Latina e BWH Hotels; e Santiago Berraondo, diretor da JLL’s Hotels & Hospitality Group.

“É um segmento com muito potencial tanto para cidades primárias, quanto para secundárias. Esta é uma das razões da aquisição da City Express, pois temos a intenção de crescer fortemente no midscale”, disse Paredes. Atualmente, a bandeira mexicana conta com 145 hotéis em países como México, Costa Rica e Chile.

O bom posicionamento para além de capitais é uma das apostas da Marriott na marca adquirida em 2022. “O mercado midscale dá possibilidades de financiamento, produto, desenvolvimento e conversão”, pontuou o executivo da gigante norte-americana.

Na Accor, o midscale se alinhou ao lifestyle. A rede francesa aposta em conceitos gastronômicos para integrar experiências aos empreendimentos. “Estamos integrando experiências de A&B (Alimentos & Bebidas) em todas as nossas marcas, inclusive no segmento midscale”, reforçou Claudia.

A executiva citou algumas bandeiras do portfólio da rede, como Mercure e Handwritten Collection para o segmento. “Nas Américas, a categoria é detentora de 38% do nosso portfólio. É um segmento que vem crescendo mundialmente. Temos criado conceitos de A&B para integrar os hotéis, ajudando os desenvolvedores na concepção dos projetos com elementos para estruturar as experiências”.

Claudia Piña
Claudia destacou a estratégia da Accor para o segmento

Marcas e franquias

Ramirez salientou que, no caso da Wyndham, como uma rede com mais de 9 mil propriedades em sua base, mais de 50% dos hotéis estão no segmento midscale mundialmente. “Trata-se de um nicho muito rico para crescimento, tanto em aquisições, quanto em desenvolvimento”.

No SAHIC, o executivo da rede norte-americana ainda destacou marcas como Ramada e Tryp como pilares para o desenvolvimento de novos empreendimentos de médio porte. “A bandeira Tryp, por exemplo, nos ajudou a expandir em mercados urbanos com um conceito midscale e lifestyle, em destinos como Brasil e Paraguai”.

Para a BHW, Rehwaldt afirmou que o midscale é uma das apostas para expandir. “Temos um planejamento estratégico para atingir a marca de 5 mil hotéis até 2029. O ano passado foi um bom momento para o desenvolvimento na região. Estamos em busca de mais mercados na América Central. No Brasil, é difícil crescer com as questões de apoio e financiamento”.

Visão 2030: os desafios para o futuro da hospitalidade

No apagar das luzes do SAHIC, Arturo García Rosa, presidente e CEO do Grupo SAHIC, organizador do evento, comandou o último painel da edição 2025. Com o tema Visão 2030: desafios e oportunidades futuras para o turismo e a hospitalidade na região, executivos discutiram os empecilhos para o crescimento do setor hoteleiro no mercado latino-americano.

Participaram do painel Mauro Rial, COO (Chief Operations Officer) da Accor da PM&E Division para países hispânicos; Diogo Canteras, sócio da HotelInvest; Rogerio Basso, head de Turismo do IDB Invest; e Emilio Izquierdo, CEO do Maraey.

García Rosa iniciou o debate questionando os painelistas sobre quais são os principais desafios para o setor hoteleiro nos próximos anos. Para Rial, existem três entraves para o desenvolvimento de novos hotéis: financiamento, infraestrutura e segurança.

“Financiamento é um problema conhecido por todos. A América Latina tem desafios em profundidade de mercado financeiro. Não há financiamento a longo prazo e, com certeza, é um dos principais entraves”, disse o executivo da Accor.

Rial ainda destacou a questão da segurança em destinos latino-americanos como um dos empecilhos. “Como podemos crescer quando o turismo na região ainda é afetado pela falta de segurança?”, questiou.

Izquierdo, que está à frente de um dos projetos mais ambiciosos da hotelaria brasileira atual, enfatizou problemas como falta de atratividade do setor para gerações mais jovens de profissionais. “Precisamos de mais formação, treinamento e melhores salários para esses jovens talentos”.

Basso, por sua vez, comparou a América Latina a Europa quando o assunto é conectividade. “Existe uma facilidade de transitar entre países na Europa. Aqui, destinos com uma ou duas horas de diferença possuem impostos altíssimos”, pontuou.

O mais otimista do time, Canteras destacou o bom momento do turismo brasileiro em sua fala. “É um momento mágico para o setor. Os resorts estão cheios e os hotéis urbanos estão subindo suas tarifas. Estou celebrando esse cenário de crescimento do número de turistas brasileiros”.

Arturo García Rosa
García Rosa liderou o último painel do SAHIC

Projeções e tendências

Canteras ainda apontou para o crescimento do turismo corporativo, que vem se recuperando fortemente nas principais praças do país. O sócio da HotelInvest também destacou a falta de desenvolvimento de novos empreendimentos como um fator que deve beneficiar as propriedades em operação. “Devemos continuar em um pico de recuperação nos próximos sete anos”, disse.

Para Basso, as operadoras locais terão um importante papel no segmento, com maior profissionalização do setor. O executivo também reforçou o crescimento do all-inclusive na oferta da região. “Nos últimos 15 anos, o all-inclusive teve uma alta substancial com a entrada das marcas norte-americanas, o que gerou segmentação e novas bandeiras”.

Para finalizar sua participação no SAHIC, Rial salientou que os hotéis precisam fazer parte da comunidade nos locais em que estão inseridos. “Isso depende muito do destino. São clientes que não são hóspedes, mas moradores do bairro e da cidade, que utilizam serviços como coworking e concierge. O Fairmont Copacabana, por exemplo, é um ponto de encontro da comunidade carioca”.

(*) Crédito das fotos: Peter Kutuchian/Hotelier News