Ushuaia (Argentina), Machu Picchu (Peru), Ilha de Páscoa (Chile) e Caminho de Santiago de Compostela (Espanha). Objetos de desejo de turistas em todo o mundo, destinos conhecidos, repletos de beleza natural e atrações, o que mais esses lugares têm em comum? Além dos carimbos oficiais concedidos pelas autoridades, logo na chegada ao aeroporto, eles também oferecem os chamados carimbos turísticos. O que pode parecer um pequeno detalhe, na verdade, é algo que encanta os viajantes.

Recentemente, cinco unidades de conservação do Rio de Janeiro entraram para esse seleto grupo, a partir do lançamento do Passaporte Ambiental. Desde setembro, quem visita os parques naturais municipais da Prainha, Chico Mendes, Marapendi e Paisagem Carioca e o Monumento Natural dos Morros do Pão de Açúcar e Urca recebe um passaporte, repleto de informações turísticas, sobre a flora e a fauna local, que pode ser carimbado. São cinco modelos de carimbos alusivos a espécies que vivem nesses locais.

Idealizado por um grupo de pesquisadores, educadores e guias de turismo, reunidos pelo Instituto Brasileiro de Biodiversidade – BrBio, com o apoio da Secretaria de Meio Ambiente da Prefeitura do Rio de Janeiro, o Passaporte Ambiental foi pensado para incentivar a visitação consciente nas principais áreas protegidas da cidade, revelando assim a importância cultural, histórica e biológica dos ecossistemas costeiros como as restingas, praias e lagunas, entre outros e buscando assim contribuir ainda mais para o uso sustentável desses valorosos patrimônios. Ah, uma notícia em primeira mão, em breve, será lançado um segundo volume, com destaque para outras cinco áreas verdes e azuis da cidade.

Andei pensando, com base na minha longa trajetória profissional no trade de turismo, como uma cidade como o Rio de Janeiro e um país como o Brasil, com inúmeras belezas naturais, ainda não dá a devida atenção a experiências como a do Passaporte Ambiental ou a razão de não termos mais opções de roteiros que sejam experiências socioambientais. O ecoturismo, ou turismo azul e verde, contribui para a preservação do meio ambiente e o desenvolvimento sustentável das comunidades locais, movimenta a economia e promove o crescimento de forma consciente e com benefícios para os envolvidos.

Mas, vamos voltar à história dos carimbos turísticos, com a qual iniciei esse texto? Bom, não sei se todos os leitores já tiveram a oportunidade de viajar para os lugares que destaquei na abertura, e viver essa experiência de deixar o passaporte ainda mais “valioso”, com uma prova de que visitamos determinado país, cidade ou ilha. O carimbo de Machu Picchu, no Peru, por exemplo, celebra a conquista da subida; o da Ilha de Páscoa, no Chile, além de marcar a visita a um dos locais mais remotos do planeta, é concedido pela única agência dos correios do lugar; em Galápagos, no Equador, você pode “conquistar” o carimbo com o desenho de um tubarão amarelo e no Ushuaia, na Argentina, considerada a cidade mais ao sul do planeta, você tem à disposição uma dezena de carimbos divertidos e inusitados. A maioria dos turistas, claro, valoriza essas experiências, mas ninguém aproveita mais do que os visitantes de países da Ásia. A alegria e a vibração, ao conferirem a novidade, chama atenção e contagia todos nos correios e na área voltada para turistas no centro da cidade argentina.

O turismo que tem ligação direta com o meio ambiente e a sustentabilidade pode ser classificado de diferentes formas, dependendo do objetivo e do público-alvo. O ecoturismo é conhecido também por turismo ecológico e pode ser turismo de natureza caso, no roteiro, sejam incluídas atividades que envolvam a exploração de florestas e rios, por exemplo. No caso do turismo sustentável, existe um compromisso do ecoturismo com práticas que não prejudicam o meio ambiente e beneficiam as comunidades locais. As viagens verdes incluem abordagens conscientes e responsáveis, assim como o turismo responsável, que envolve ações éticas e cuidadosas. Existe também a exploração da biodiversidade, que envolve a descoberta e apreciação de espécies da fauna e da flora, as aventuras na natureza, as viagens ecoconscientes, as jornadas ambientais e algumas outras. Entendo que toda essa variedade de nomes e expressões representa ainda mais a importância do respeito pelo meio ambiente, a adoção de ações sustentáveis e a escolha de roteiros que nos permitam o contato harmônico com a natureza.

A prática do turismo conectado com a cultura e o meio ambiente vem ganhando muita popularidade, ainda mais quando está presente a vertente da preservação e da geração de bem-estar para comunidades locais. E os benefícios são inúmeros: proteção dos recursos naturais, conscientização sobre a importância da conservação da biodiversidade, estímulo ao desenvolvimento sustentável, valorização dos saberes locais e tradicionais, benefícios para a saúde e diminuição do estresse. Ou seja, eu poderia escrever uma série, com vários textos, para descrever todos os benefícios recebidos por todos os envolvidos.

Enfim, o Passaporte Ambiental, recém-lançado no Rio, é uma oportunidade para a cidade conquistar uma nova modalidade de turistas e estimular hotéis e, principalmente, agências a criarem novos roteiros e passeios que tenham as praias, florestas e a biodiversidade como as grandes estrelas. E de fato, demonstra que é possível unir os três setores da sociedade (governo, empresas e sociedade civil organizada) em prol da conservação da biodiversidade e que todos podem se beneficiar de um turismo sustentável.

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Com 35 anos de experiência no setor hoteleiro, Tomas Ramos é reconhecido pela habilidade em produzir competências para um desempenho destacado na área de Turismo de Lazer e Corporativo, envolvendo vendas online/offline, marketing, distribuição, gestão de receitas e processos operacionais. Com estilo marcado pelo foco em objetivos e resultados, Ramos tem uma longa experiência na colaboração, criação e implementação de conceitos inovadores em nichos de mercado novos ou tradicionais, sempre com o objetivo de atingir resultados eficazes. Vencedor de 16 categorias do prêmio internacional Adrian Awards, da Hospitality Sales & Marketing Association International (HSMAI), em Nova York, estudou Marketing, Revenue Management, Gestão de Receitas e Desenvolvimento Hoteleiro & Investimento na Cornell University e, recentemente, completou uma pós-graduação em Digital Business, na Columbia University USA.

(*) Crédito da foto: arquivo pessoal Tomas Ramos