Sete anos movimentados e emocionantes – e tudo isso sem qualquer sinal de pandemia no horizonte. Atual presidente executiva da Resorts Brasil, Ana Biselli Aidar viveu intensas transformações pessoais e profissionais no período. Além de dar a luz a quatro rebentos, ela defendeu sua tese de doutorado entre a segunda filha e os gêmeos que chegaram há dois anos.

“Costumo brincar que foram quatro partos em sete anos, porque uma semana antes dos meninos nascerem defendi minha tese. E posso dizer que foi o mais difícil de todos”, brinca Ana. “Não deixa de ser um filho também, não é verdade?”, acrescenta a executiva, que atua na hotelaria desde 1999.

Pois é com esse dia a dia corrido em casa e no trabalho que Ana encara os desafios impostos ao setor pela pandemia. Ativa nas articulações com as entidades que formam o G-20 e atores governamentais, Ana aproveita as horas vagas para cozinhar em família. “É o hobbie que restou, pois com quatro filhos é muito complicado”, diz novamente com bom humor.

“Hoje só posso falar dos hobbies que já tive e quero ter”, acrescenta nossa convidada de hoje (21) no Três perguntas para. No bate-papo com o Hotelier News, Ana comentou sobre a demanda de lazer nos resorts, as perspectivas para o segmento e como anda o acesso ao crédito no mercado. Lei até o final!

Três perguntas para: Ana Maria Biselli

Hotelier News: O turismo de lazer regional vai salvar a hotelaria de resorts? A expectativa é realmente positiva para a alta temporada?

Ana Maria Biselli: Sim, estamos tendo uma boa procura nos finais de semana e feriados nos resorts próximos a grandes centros. Por outro lado, esses empreendimentos trabalham com capacidade reduzida de oferta para atender aos protocolos de segurança das diversas regiões do país. Há, portanto, uma limitação em relação ao quanto se pode vender nesses períodos de alta procura para o contexto atual. Além disso, durante a semana, os resorts costumavam atuar muito com o segmento de eventos, que esperamos ver uma retomada em breve. Acontecendo isso, certamente contribuirá para um resultado mais positivo para o setor como um todo.

O fato das escolas ainda não terem voltado e de haver também muitos pais trabalhando em regime de home office criou outro nicho de mercado outrora não contemplado pelo segmento. Hoje, há procura de famílias interessadas em fazer o confinamento em um resort, unindo lazer e trabalho. Agora, se isso justifica um resultado positivo para 2020, diria que não. É um ano difícil e, muito provavelmente, muito complicado em termos de resultado. No entanto, a expectativa para alta temporada é boa, dado que o dólar subiu frente ao real e as viagens internacionais ficarão limitadas.

Três perguntas para - Ana Biselli Aidar_capa

Ana ao lado do Sérgio Souza, presidente do Conselho da Resorts Brasil, durante a Abav Expo 2019

HN: É possível identificar uma região com demanda menor do que outras? Como está o Nordeste, por exemplo, que tem mais dependência de malha aérea?

AMB: De fato, temos visto maior procura por empreendimentos mais próximos de centros urbanos. Ainda assim, já percebemos também uma demanda para viagens com distâncias maiores, mas a malha aérea é um gargalo para que esse movimento cresça. Quando os voos e rotas forem retomados, a tendência é trazer resultados mais positivos para empreendimentos afastados dos principais centros geradores de demanda.

Obviamente, existe uma interdependência entre os dois segmentos (hotelaria e aviação) e, para nós, a recomposição da malha aérea é fundamental para que o fluxo volte à normalidade o quanto antes. O mesmo vale para o setor aéreo, que precisa disso para justificar a ampliação do número de operações. Na medida em que ocorra a retomada da aviação, resorts do Nordeste tendem a se beneficiar mais e mais.

HN: Obviamente, a situação ainda não é a ideal. A maior preocupação continua sendo o caixa? Como anda a questão do acesse a crédito para associados?

AMB: Houve melhora no acesso e as perspectivas agora com a sanção da MP 963, que trata especificamente dos recursos destinados para capita de giro, trazem um panorama mais seguro para o escoamento desse crédito. A expectativa é ter participação da Caixa, o que dará maior capilaridade para o escoamento dos financiamentos. Ainda assim, temos tido bom resultado nas articulações com agências de fomento, caso da DesenvolveSP.

Então, esperamos que, no segundo semestre, haja mais acesso ao crédito que foi disponibilizado, especialmente pelos R$ 5 bilhões que vieram para o Fungetur pela MP 963. Há ainda outras linhas bastante utilizadas por pequenas e médias empresas, caso do Pronamp, e o Peac, para os negócios de médio porte. Temos uma expectativa, portanto, que esse crédito finalmente chegue na ponta.

(*) Crédito da foto: Arquivo pessoal