A entrevistada de hoje (27) do Três perguntas para tem 40 anos de idade, é casada, mãe de dois filhos, e é justamente com a família que aproveita o tempo livre, cozinhando, viajando, assistindo GPs de Fórmula 1, este último o hobby em comum em família. Ana Marta Araújo, coordenadora do curso superior de Tecnologia em Hotelaria e do Bacharelado em Gestão de Hospitalidade do Centro Universitário Senac – Santo Amaro, também é uma verdadeira entusiasta da música e das artes plásticas como forma de expressão, conexão humana e construção de espaços e experiências.
Em um momento desafiador, durante a gestação do segundo filho, encontrou na arte do bordado um hobby que a ensinava a esperar o tempo passar no seu devido ritmo. Mais tarde, durante a pandemia, o bordado se uniu à aquarela como forma de ajudá-la a se conectar com o mundo externo a partir das músicas que davam ritmo aos dias de confinamento. Um pouco deste caminho está registrado no perfil Songs n’ Stitches no Instagram, onde publicou alguns bordados autorais feitos na época.
Fã de música, indica as playlists Songs n’ Stiches e Versionando, que refletem um pouco de seu gosto musical diverso. Como indicação de leitura, deixa os livros A revolução das habilidades para o futuro do trabalho na era da Inteligência Artificial, de Martha Gabriel; Unreasonable Hospitality, de Will Guidara; e Quando você toca, de Juliana Negri e Fabiana Liam.
Ainda criança, adorava estar envolvida nos preparativos das festas e viagens da família, e escolheu a hotelaria depois de conhecer o curso por meio da irmã mais velha, também formada na área, no Senac. “Entendo a educação como o espaço onde podemos exercitar a hospitalidade em sua forma mais genuína e transformadora. É na sala de aula que posso ser uma hoteleira-anfitriã que conduz a experiência do serviço educacional e conecta pessoas aos seus propósitos”, diz.
Ana Marta é mestre em Hospitalidade pela Universidade Anhembi Morumbi e bacharel em Hotelaria pelo Centro Universitário Senac. Além disso, é formada como team coach pelo Team Mastery Program, da Finlândia. Em sua trajetória, atuou na área de lazer e eventos no início da carreira e sempre gostou de estar nos bastidores, para criar experiências memoráveis tanto para o público, quanto para os envolvidos na promoção de eventos.
Com atuação no Senac desde 2007, coordenou a pós-graduação Lato Sensu em Administração e Organização de Eventos, o curso Superior de Tecnologia em Eventos, o bacharelado em Hotelaria, e compôs o grupo de concepção e coordenação do Programa de Orientação Profissional e de Carreira. Na entrevista de hoje, ela fala ao Hotelier News sobre a importância da educação para formar profissionais alinhados ao novo cenário da hotelaria. Confira!
Três perguntas para: Ana Marta Araújo
Hotelier News: Como o curso de Hotelaria do Senac tem se adaptado às mudanças no perfil do profissional exigido pelo mercado?
Ana Marta Araújo: Os profissionais formados pela graduação em Hotelaria do Senac SP sempre foram bem reconhecidos pelo mercado, especialmente pela capacidade de articularem as competências técnicas da área com competências comportamentais na condução das relações com hóspedes e entre equipes.
O que hoje denominamos de hard e soft skills, para as competências técnicas e comportamentais, são competências que desenvolvemos ao longo da trajetória formativa em nosso curso desde a primeira turma de graduação, em 1989. Já nas primeiras turmas todos os alunos passavam pela disciplina de Prática Profissional em nossos Hotéis-Escola em Águas de São Pedro e Campos do Jordão. Prática essa que permanece em nosso curso, cada vez mais com um caráter de construção do olhar estratégico para a jornada e experiência do cliente a partir das experiências que os alunos têm no Hotel-Escola.
Desde 2012 damos a oportunidade de nossos alunos não só passarem pela Prática Profissional, mas também assumirem os cargos gerenciais dos Hotéis-Escola durante a disciplina prática Desafio Senac: Alunos no Comando. Nela, os alunos passam por um processo seletivo para assumirem todos os cargos gerenciais dos Hotéis-Escola e, incluindo a gerência geral. Nestes cargos eles concebem e planejam todas as experiências de um final de semana do empreendimento. Esta programação é implementada junto aos hóspedes do Grande Hotel, operacionalizada por uma equipe também de alunos recrutados, selecionados e treinados pelos mesmo alunos-gestores do Alunos no Comando.
Essa é uma experiência única de educação profissional que coloca alunas e alunos de fato no papel de gestores para experienciarem os desafios da condução de equipes, da solução de problemas complexos e de todas as implicações desse contexto organizacional no relacionamento com os clientes. Quem quiser conhecer um pouco mais sobre o Alunos no Comando, sugiro assistir o mini-doc da edição de 2024, no link.
Além disso, desde 2023 implementamos nossos novos projetos pedagógicos de graduação em Hotelaria e em Gestão de Hospitalidade no Senac São Paulo, que promovem uma nova concepção de graduação evidenciando o perfil do hoteleiro enquanto um anfitrião profissional; competente para gerir e operar os mais variados tipos de experiências de consumo a partir das referências de acolhimento da hotelaria. Fomentamos nessa formação todo o repertório de administração de empresas, aliado à aplicação da hospitalidade enquanto estratégia de humanização e diferenciação de serviços.
Por isso, na atual graduação de Hotelaria do Senac organizamos as estratégias de desenvolvimento de competências em projetos balizados pelos pilares da hospitalidade: receber, hospedar, alimentar, entreter e despedir. Isso permite que os alunos construam o repertório teórico a partir da aplicação dos conceitos para a solução de problemas reais encontrados no dia a dia do mercado. Tudo isso numa dinâmica de construção de projetos em equipes que mobiliza a também a aplicação e desenvolvimento de competências relacionais, essenciais para o desenvolvimento de suas carreiras e performance no mercado.
HN: Quais competências e habilidades você acredita que serão indispensáveis para os hoteleiros nos próximos anos?
AMA: Eu considero que o hoteleiro é quem são os profissionais com as habilidades e competências indispensáveis para os próximos anos, se me permite inverter a lógica da pergunta (risos).
Digo isso pois é interessante vermos, por exemplo, as pesquisas mais recentes do Fórum Econômico Mundial sobre o Futuro do Trabalho apontando as competências que têm menor potencial de serem substituídas por IA generativa. Entre elas aparecem: resiliência, flexibilidade, agilidade, orientação para serviços e clientes, empatia, escuta ativa. Note como todas elas estão estreitamente ligadas ao perfil do profissional de hotelaria, apesar do estudo tratar do mercado de trabalho como um todo. Ou seja, o mercado todo precisa de profissionais que saibam estabelecer e perpetuar relacionamentos de maneira humanizada e estratégica. Que tenham visão holística, mas que estejam atentos aos detalhes e às mudanças para customizar as soluções às singularidades das equipes, das comunidades, dos clientes… ou seja, cuidar de pessoas!
Então, eu considero que, para que os hoteleiros permaneçam relevantes nos próximos anos, é indispensável que eles deem potência e visibilidade para a relevância de sua atuação enquanto anfitriões, gestores de relações humanas e de consumo.
Gosto muito da fala do Alexandre Pellaes que diz que o trabalho nunca é só o trabalho, mas a expressão e construção de identidade e legado.
Pensando nisso, creio que hoteleiros devem sempre ser pessoas curiosas, que constroem um repertório amplo de conhecimento. Devem ser profundamente especialistas em hospitalidade com amplo conhecimento nas mais variadas áreas, conectando olhares diferentes para personalizar serviços e incluir pessoas diversas. Construir esse repertório amplo é o que possibilitará que atuem de forma criativa para conceber e entregar experiências surpreendentes nos espaços onde atuam.
Acima de tudo, o que é indispensável hoteleiros hoje e sempre, é que sejam extremamente humanos, pessoas que gostam de pessoas (especialmente em situações desafiadoras) que tenham a hospitalidade enquanto valor e propósito de vida.
HN: Como a formação em hotelaria tem integrado temas como sustentabilidade, diversidade e inclusão?
AMA: No Senac São Paulo temos como valores essenciais a promoção da diversidade, equidade e a atuação profissional sustentável. Portanto, cada um desses valores estão presentes em nossas propostas educacionais e ações pedagógicas.
Nas graduações em Hotelaria e Gestão de Hospitalidade estes temas são inseridos de forma transversal nas disciplinas, além de apresentados em cases práticos durante palestras com profissionais de nossa rede de empreendimentos e associações parceiras, visitas técnicas e estudos de campo, sempre buscando por profissionais que tragam representatividade para grupos minorizados nessas mediações.
Assim, cada projeto do curso apresenta aos alunos desafios reais a serem abordados e solucionados a partir do repertório desenvolvido em sala e das referências de práticas de mercado. As soluções propostas nos projetos desenvolvidos pelos nossos alunos são avaliadas de forma que eles demonstrem quais são as estratégias aplicadas que promovem sustentabilidade sobre os impactos da operação e gestão de empreendimentos, que sejam inclusivos não só para clientes, mas que considerem ações de inclusão da diversidade e de singularidades na composição e condução das equipes envolvidas na operação e gestão destas ações. Muitos destes projetos são desenvolvidos diretamente com a comunidade do entorno do Centro Universitário, potencializando ainda mais seus impactos e relevância.
Além disso, buscamos também sermos agentes de inclusão e diversidade nas próprias políticas de acesso ao curso, tanto pelo processo seletivo, políticas de descontos e bolsas de estudo e estratégias de acolhimento e adaptação das propostas pedagógicas para as singularidades de cada aluno.
(*) Crédito da foto: Divulgação/Senac SP