Cidade histórica do Rio de Janeiro, Paraty é um destino bastante conhecido entre os turistas brasileiros e estrangeiros. A cidade vai muito além de belas praias cercadas pela Mata Atlântica, oferecendo aos visitantes opções de turismo histórico, experiências gastronômicas, entre outros atrativos. Mas recentemente, um problema de saneamento tem afetado negativamente a demanda turística e, consequentemente, a hotelaria da cidade.

Para especificar e deixar tudo às claras: hoteleiros têm se queixado da má condição do sistema de esgoto, que está a céu aberto em diversos pontos da cidade. E, pelo visto, a situação vem piorando ao longo dos anos, segundo relatos ouvidos pela reportagem do Hotelier News.

“Tive muita reclamação por parte dos hóspedes ultimamente. Na rua da minha pensão fica uma situação extremamente incômoda, porque o problema do esgoto é evidente e, como o poder público não resolve, acabo investindo do meu próprio bolso para tentar contornar o problema. Mas ainda assim não foi suficiente. Dessa forma, fica inviável oferecer uma experiência agradável aos hóspedes, devido ao mau odor que toma conta de todo o entorno do meu empreendimento”, diz Patrícia Magaglio, proprietária guest house Paulo Autran.

“A reclamação é sempre a mesma, principalmente dos hóspedes estrangeiros, que se questionam como uma cidade com a importância de Paraty, acaba ficando literalmente dentro do esgoto. E, quando a maré sobe, a situação se agrava, e isso sempre acaba impactando a demanda. A lama tomou conta de várias ruas da cidade, que está completamente abandonada”, complementa.

Segundo Patrícia, o problema também é creditado à falta de manutenção de fossas. “Muitas pessoas simplesmente não limpam as fossas, e o encanamento não aguenta. Paraty está recebendo muita gente, e fica difícil lidar com essa situação. Dessa forma, os feedbacks negativos afetam diretamente o turismo e a hotelaria da nossa cidade. Há uma queda brusca das reservas, principalmente os estrangeiros. Historicamente, julho e agosto são períodos de alta procura, e neste ano o movimento foi justamente o contrário, com a demanda caindo cada vez mais”, conclui.

Por dentro da situação

Dax Goulart, da Pousada Flor do Mar, relata ao Hotelier News que o Centro Histórico de Paraty não possui saneamento básico. Segundo ele, o esgoto é todo lançado no rio Pereque-Açu e na área denominada “Terra Nova”, localizada entre o Centro Histórico e o mar.

“Em decorrência de diversas intervenções equivocadas e da omissão do poder público, a Terra Nova perdeu suas características originárias à época do tombamento nacional de 1966, pois passou a ser uma área sem a circulação das águas, abrigando uma vegetação invasora com características de manguezal, que se beneficiou de todo o esgoto para crescer e se reproduzir, impedindo toda a visibilidade da terra para o mar e vice-versa, interferindo na paisagem original tombada e sequestrando a memória afetiva do paratiense e a sua relação histórico-cultural-ambiental com o mar”, explica.

Paraty - Esgoto

Turistas convivem com esgoto a céu aberto

“Atualmente, a Terra Nova é uma fossa a céu aberto, concentrando grande parte do esgoto lançado sem tratamento e oriundo do bairro histórico. Assim, como o passar dos anos, todo o sedimento orgânico depositado transformou-se em terreno argiloso de lama preta e fétida. Tal fenômeno acabou pressionando e aumentando o nível de todo o lençol freático. Dessa forma, a umidade ficou mais intensa nos baldrames e alicerces das construções antigas, trazendo prejuízos, como por exemplo as constantes obras de manutenção na base das paredes umedecidas e também correções dos chamados recalques, ou seja, rachaduras nas paredes quando o solo afunda. Assim, o custo de manutenção de uma pousada aumentou consideravelmente. São danos materiais suportados pelos próprios proprietários”, analisa.

Ainda de acordo com Goulart, do ponto de vista da ausência de saneamento básico, pode-se constatar três situações:

  • Área de manguezal com o nível do solo acima das ruas, dificultando a drenagem das águas
  • Todo o esgoto lançado, incluindo a gordura de bares e restaurantes, provocam forte odor, além de irregularidades na pavimentação das ruas
  • Em muitos casos, apesar dos feedbacks positivos, turistas decidem interromper sua estada em razão da falta de estrutura sanitária, afetando a hotelaria como um todo.

“São danos morais decorrentes da omissão do poder público e não ressarcidos aos proprietários. Em muitas postagens, clientes depreciam o negócio devido a aspectos externos, que não estão sob o controle do empreendimento, mas de total dependência dos gestores, tais como: rua esburacada, não pavimentada, abandonada, mau cheiro de esgoto, entre outras questões”, conclui.

Falta de soluções

Em conversa com o Hotelier News, uma hoteleira que preferiu não se identificar, destaca que neste ano, a situação em Paraty tem piorado consideravelmente, causando impactos negativos para seu empreendimento. “Quando vejo que a maré vai subir e trazer todo o esgoto junto, acabo fechando minha casa e bloqueando as reservas, porque é muito melhor do que deixar meus hóspedes enfrentarem esse transtorno. É uma realidade enfrentada por toda a hotelaria da cidade”, diz.

“Entra governo e sai governo, a situação não melhora. E é algo triste, porque é um destino com forte viés turístico, mas há momentos em que fica realmente inviável. Nós perdemos reservas, fechamos as portas, porque o problema segue se agravando”, pontua.

Segundo ela, a hotelaria local está se reuniu para levar a demanda à prefeitura e demais autoridades locais. “Porém, a resposta que ouvimos é que não há recursos para fazer a manutenção, e com isso a situação vai se perdurando e sem perspectiva de resolução, infelizmente”, finaliza.

A reportagem do Hotelier News tentou contato com a Prefeitura Municipal de Paraty via telefone, WhatsApp e e-mail, mas não obteve retorno até o momento da publicação da matéria.

(*) Crédito da capa: Pixabay

(**) Crédito da foto: Arquivo Pessoal