Após grande parte da vida dedicada ao trabalho, com algumas restrições para momentos de lazer, o viajante sênior, com mais de 60 anos de idade, se dá o direito de colher o que plantou. Com mais tempo e mais dinheiro no bolso, esse perfil de hóspede vem ganhando a atenção da hotelaria por seu potencial de compra e disponibilidade para preencher quartos durante a baixa temporada.
De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde) e o MTur (Ministério do Turismo), no Brasil, o envelhecimento da população reforça a atividade turística. Aproximadamente 15% dos viajantes nacionais e 10% dos internacionais estão nesta faixa etária.
À reportagem do Hotelier News, quatro empreendimentos da hotelaria nacional compartilharam suas perspectivas para os hóspedes seniores: Jurema Águas Quentes (PR), Casa Grande Hotel (SP), Cana Brava (BA) e Fazzenda Park Hotel (SC).
Quem é esse hóspede?
Mais do que idade, o perfil do público 60+ se define pelo comportamento. Para Maitê Teixeira, gerente Comercial do Cana Brava, são hóspedes ativos, sociáveis e que prezam por conforto, boa comida e segurança. Pela ótica de Sérgio Souza, diretor Comercial do Casa Grande Hotel, eles são conservadores nos hábitos, mas muito dinâmicos, praticam esportes e buscam lazer.

Com relação ao perfil geográfico destes turistas, o recém-chegado Ricardo Dias, diretor de Vendas & Marketing do Jurema Águas Quentes, cita que a maioria dessa fatia de hóspede vem do Paraná, Santa Catarina, São Paulo e Mato Grosso do Sul, com presença frequente de viajantes do Paraguai.
Já Antônio Coradini, gerente Comercial e Marketing do Fazzenda Park, afirma que recebe grupos mensais do Uruguai, enquanto o Cana Brava aponta procura de estrangeiros, ainda que tímida, oriundos da Argentina, Uruguai, Chile e Paraguai.
Fatia representativa
A fatia de hóspedes com mais de 60 anos cresce em todos os empreendimentos consultados. No Fazzenda Park Hotel, esse público representa 30% da ocupação atual. No Jurema Águas Quentes, houve alta de 31% no número de hóspedes com mais de 55 anos entre janeiro e junho de 2025 ante mesmo período em 2024.
No Casa Grande Hotel, o percentual gira em torno de 20%, mas existe relevância histórica. “São nossos clientes mais antigos. Eles começaram a vir com seus filhos e hoje se hospedam com os netos. Até por isso, nós fizemos questão de criar o programa Anos Dourados para valorizá-los”, diz Souza. No Cana Brava, o público 60+ é descrito como crescente e engajado. “Eles vêm em família e aproveitam a estrutura o ano inteiro”, comenta Maitê.

Em termos de receita, os hóspedes seniores apresentam um desempenho significativo. No Jurema Águas Quentes, o ticket médio é de R$ 3,3 mil por reserva, enquanto no Fazzenda Park, com sistema all inclusive, o valor gira em torno de R$ 1,8 mil. O Casa Grande Hotel não divulga números, mas destaca que este tipo de cliente tem um poder aquisitivo interessante e, por valorizar conforto e gastronomia, costuma ter gasto médio igual ou superior ao de famílias.
No resort baiano, por fim, o comportamento de compra é similar ao de outras faixas etárias, com foco em bem-estar e praticidade dentro da experiência all inclusive.
Personalização e fidelização
Os empreendimentos têm investido em programações pensadas especialmente para esse público. Dias explica que existem atividades divididas por faixa etária, com destaque para bailes, rodas de viola, passeios na natureza e circuito de relaxamento com lama negra, ofurô e SPA.
No Casa Grande Hotel, são oferecidos ioga, karaokê, carteado, hidroginástica e até DJ exclusivo no programa especial citado acima. Coradini fala sobre o pacote temático Vitalidade, que está em sua 10ª edição e estrutura toda a experiência em torno do bem-estar físico e emocional.

Maitê explica a aposta do Cana Brava está na integração de gerações. “Nós temos experiências que agradam a todas as idades ao mesmo tempo. O público sênior participa ativamente de tudo, inclusive das atividades mais animadas”, diz.
Campanhas e distribuição
A atração desse perfil também pede que a hotelaria aplique e direcione boas estratégias de marketing. No Jurema Águas Quentes, as reservas são feitas majoritariamente de forma direta, via telefone ou site oficial. Já no Casa Grande, as campanhas incluem redes sociais, mídia impressa e convênios com clubes. “Eles preferem reservar direto com a central, valorizam o atendimento humanizado”, explica Souza.
A unidade catarinense capta hóspedes seniores por meio de pacotes com agências e operadoras focadas em grupos rodoviários e aéreos. No resort baiano, muitos chegam por agências de viagens ou indicação de quem já se hospedou.
Prontos para viajar
Com mais tempo livre e flexibilidade de datas, os viajantes 60+ são centrais na ocupação da hotelaria fora da alta temporada. De acordo com o executivo do Jurema Águas, Quentes, cerca de 74% desse público se hospeda durante a semana, com estadas médias de quatro dias.
Para Coradinini, os grupos da melhor idade também se concentram nos dias de semana, e o Fazzenda Park possui um calendário anual com ações específicas para eles.

Souza salienta que a aposta é em promoções direcionadas nos canais já usados pela marca, enquanto Maitê reforça campanhas promocionais em datas alternativas.
As excursões em grupo também são parte significativa desse perfil de hóspede para a hotelaria. Em comum, os empreendimentos relatam que esses turistas viajam acompanhados com frequência por meio de pacotes rodoviários ou aéreos negociados com agências especializadas.
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