Até novembro do ano passado, o endividamento das famílias brasileiras com operações de crédito chegou a 49,5%, segundo dados do BC (Banco Central). O número representa alta de 0,3% no intervalo de um ano. Na série histórica, o pico de 50,1% foi alcançado em julho, aponta O Globo.

O relatório do BC inclui pessoas com dívidas em carnê de lojas, crédito consignado, empréstimo e financiamento de carro ou imóvel. Com esse nível de endividamento, o comprometimento da renda familiar com instituições financeiras ficou em 28,2% no período.

“O comprometimento da renda é o quanto já está ‘carimbado’. Uma destinação obrigatória para pagar a dívida. Se o consumidor não cumprir com a conta, entra no indicador de pessoas inadimplentes”, afirma Pablo Alencar, sócio e head da Valor Capital.

BC: outros dados

O estudo aponta que a taxa de juros no crédito livre e o nível de inadimplência também cresceram no ano passado. A taxa média de juros, cobrada pelos bancos em suas operações com pessoas físicas e com empresas, registrou alta de 8,2 pontos percentuais em 2022. Até dezembro, o incremento foi de 42%.

Quando são consideradas as operações com pessoas físicas, o indicador alcançou 55,8% no ano, elevação de 10,8%. O destaque, neste cenário, é o aumento dos juros no crédito pessoal consignado, em 5,1 pontos percentuais.

A taxa de inadimplência, por sua vez, encerrou o ano passado com elevação de 4,2%, 1,1% em relação ao fim de 2021. Piter Carvalho, economista-chefe da Valor Investimentos, diz que além do “crédito caro, com alta nos juros, a inflação persistente nos últimos dois anos também contribuiu para o cenário de maior endividamento das famílias.

“Entre 2021 e 2022 tivemos alta muito forte de preços, principalmente com alimentos e combustíveis, e tudo isso não coube dentro do orçamento das famílias. O salário não acompanhou esse aumento expressivo”, avalia. Em 2021, a inflação medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) fechou o ano com aumento de 10,06%, segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Ao longo do ano passado, o pico foi de 12,13% em abril, maior elevação acumulada em 12 meses, desde outubro de 2003. Em agosto, o aumento geral dos preços saiu dos dois dígitos e, até o fim do ano, ficou em 5,79%.

(*) Crédito da foto: AhmadArdity/Pixabay