O percentual de brasileiros endividados se manteve estável em junho de 2024, registrando 78,8%, conforme revelado pela Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor) da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). Esta estabilidade reflete a cautela das famílias em evitar novos compromissos financeiros, priorizando a estabilização de suas dívidas existentes.

“A manutenção do índice de endividamento indica uma preocupação crescente com a inadimplência, levando as famílias a adotarem medidas preventivas para evitar novos endividamentos”, pontua José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac. Em abril, houve um aumento de endividamento, alcançando 78,5%, o que marcou a segunda alta consecutiva antes da estabilidade de junho.

Em junho, a Peic revelou uma melhora no perfil do crédito das famílias brasileiras. Houve uma redução no percentual de famílias que se consideram “muito endividadas”, caindo para 17,2%. Por outro lado, aumentou o número de famílias que se sentem “pouco endividadas”, atingindo 33,7%.

“Os atrasos nas dívidas têm se prolongado, refletindo uma dificuldade crescente das famílias em honrar seus compromissos financeiros e uma maior cautela na tomada de novos créditos”, observa Felipe Tavares, economista-chefe da CNC.

O endividamento entre as mulheres aumentou ligeiramente em junho de 2024, enquanto entre os homens houve uma redução marginal. Ambos os grupos viram um avanço nas contas em atraso, com as mulheres apresentando uma melhora nas condições de pagamento em comparação aos homens.

O cartão de crédito continua sendo a modalidade mais utilizada pelos endividados, representando 86,4% do total de devedores, embora tenha havido uma leve redução em comparação ao ano anterior. Carnês e cheque especial perderam participação, enquanto o financiamento imobiliário registrou o maior crescimento anual, alcançando 8,9% de utilização.

Impacto da crise no Rio Grande do Sul

A crise climática no Rio Grande do Sul teve um impacto significativo nos dados nacionais de endividamento. Sem a contribuição do estado, o percentual de endividados teria recuado para 78,4%.  “A necessidade de crédito para reconstrução das famílias gaúchas afetadas pela crise elevou o índice nacional de inadimplência em 0,2 pontos percentuais”, afirma Tavares.

A CNC projeta que o endividamento continuará a aumentar ao longo do segundo semestre, com a inadimplência mantendo-se em níveis elevados. Este cenário reflete um ambiente econômico incerto, onde as famílias enfrentam desafios contínuos para equilibrar seus orçamentos frente à persistência dos atrasos nas dívidas.

(*) Crédito da foto: Pixabay