Segundo levantamento recente da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), a intenção de consumo das famílias subiu 1,3% em janeiro, frente ao mês anterior. O resultado é o maior nível desde abril de 2020 e a perspectiva de consumo foi o item de maior destaque, avançando 2,7%.

“Este dado indica que as famílias em geral esperam melhores condições de consumo no futuro. De fato, desde outubro de 2022 a perspectiva de consumo tem se mostrado mais positiva do que o consumo propriamente dito”, afirma José Roberto Tadros, presidente da entidade. Segundo ele, a inflação mais contida nos últimos meses tem beneficiado a renda disponível para o consumo, a despeito do maior endividamento das famílias.

No recorte anual, a ICF aumentou 23,1% em janeiro deste ano, em relação ao mesmo mês de 2022. O maior destaque ficou com o índice perspectiva profissional, que teve incremento de 25,1% em comparação com janeiro do ano passado.

Satisfação com a renda atual

A pesquisa da CNC mostra que os consumidores entrevistados estão mais satisfeitos com a renda atual. O indicador avançou 2% em janeiro no recorte mensal, e cresceu 31,8% na comparação anual. Além disso, aproximadamente 39% dos entrevistados afirmaram que estão recebendo o mesmo valor do ano passado, e cerca de 35% tiveram melhora na renda. Para 25,6% deles, o indicador teve piora.

O IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) acumulado do ano passado, por sua vez, subiu 5,8%. Em 2021, o índice havia registrado alta de 10,4%.

CNC: famílias com menor renda querem gastar mais

O aumento geral da ICF foi puxado pela intenção das famílias com salários mais baixos, crescendo 1,9% em relação a dezembro do ano passado e 25,7% na variação anual. O índice chegou a 91,2 pontos e, apesar de ainda estar na zona de insatisfação (abaixo dos 100 pontos), é o maior desde abril de 2020.

Izis Ferreira, economista responsável pela pesquisa, aponta que os consumidores de rendas média e baixa acreditam em melhora das condições de consumo nos próximos meses. “Uma das causas do otimismo é a ampliação do principal programa de transferência de renda do governo, com o pagamento do valor mínimo de R$ 600,00, além do incremento de R$ 150,00 por criança até seis anos”, explica. Segundo ela, essa injeção de mais recursos nos orçamentos das famílias traz ânimo ao consumo, mesmo com maior endividamento e dificuldade de acesso ao crédito.

Por outro lado, as famílias de renda mais elevada estão mais frustradas com a conjuntura econômica e menos dispostas a gastar no começo de 2023. Por esse motivo, a intenção de consumo caiu 1% entre eles. “Os consumidores desse grupo estão menos satisfeitos com o nível de consumo atual, pois estão pagando mais pelos serviços em geral, e mais descontentes com a perspectiva profissional e com acesso ao crédito, que está mais caro e seleto”, conclui Izis.

De acordo com a economista, a proporção de endividados no ano cresceu mais nessa faixa de renda, como mostrou o relatório anual de 2022 da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência dos Consumidores), também realizada pela CNC. Mesmo assim, a ICF continua no espectro do otimismo para este grupo, com 107,7 pontos. A variação anual indicou crescimento de 15,1%.

Por fim, Izis destaca que, mesmo que as mulheres estejam mais endividadas que os homens, a ICF expôs que elas avaliam a renda e o nível de consumo de forma mais positiva. No recorte por gênero, a pesquisa aponta que, entre as mulheres, houve avanço de 3,3% no indicador em janeiro e 26% na variação anual. Apesar disso, o índice está em 91,4 pontos, ainda no campo de insatisfação. A taxa em relação aos homens está mais alta, em 96,2 pontos, e a perspectiva de compra teve incremento de 23,1% no comparativo com janeiro de 2022.

(*) Crédito da capa: Pixabay