terça-feira, 2/setembro
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Hotel Trends Orçamentos discute desafios de hotéis urbanos

Hotel Trends Orçamentos: quais as perspectivas para os eventos?

Seguindo a programação do Hotel Trends Orçamentos, o painel Eventos nas grandes cidades: qual impacto esperar? trouxe discussões relevantes sobre as mudanças no perfil dos eventos no pós-pandemia, o papel da hotelaria na ativação de destinos urbanos para o segmento, entre outras questões.

A conversa contou com participação de Donovan Ferreti, managing director da Ticketmaster; Paulo Ventura, diretor do Expo Center Norte; Raffaele Cecere, CEO do Grupo R1; e Vitor Donadeli, CEO do EVNT Group.

A conversa foi iniciada com Donadeli destacando o crescimento do volume de eventos em hotéis, colocando a tecnologia como uma importante ferramenta para ajudar os hoteleiros a prever demanda. “Nós tivemos um crescimento de cerca de 13,5% em receita em 2025 na comparação com o ano passado. Não falamos mais em recuperação, mas em expansão do segmento. O que chama atenção nesse avanço é que ele é maior, mas com ticket médio menor. Estamos vendendo mais, mas não com a mesma qualidade”, afirmou.

Segundo o executivo, quando o volume de vendas cresce em relação ao ano anterior, é um cenário positivo. Mas quando essa venda perde elasticidade de preço, é necessário rever a estratégia. “Neste mês, estamos 10% abaixo, em termos de volume, na comparação com a mesma data do ano passado. Assim, a ideia é fazer análises mensais para fornecer insights valiosos para os times dos hotéis”, acrescentou, ressaltando que o ticket médio mais baixo afeta negativamente o GOP (Lucro Operacional Bruto).

Dessa forma, para garantir maior retorno aos investidores, é preciso melhorar o GOP por meio da elevação da eficiência operacional e da otimização de processos.

Perspectivas para o mercado

Na conversa no Hotel Trends Orçamentos, Ferreti pontuou que, para o ano que vem, assim como em 2025, está previsto um grande volume de eventos, que reflete diretamente nos números da hotelaria e do turismo.

“Neste sentido, estamos fazendo uma parceria com hotéis, a fim de oferecer uma experiência completa com quem adquire ingressos para os nossos eventos. Nessa experiência, estão incluídas iniciativas como quartos temáticos no hotel, entre outras ações. Acredito que isso contribui muito com o nosso segmento”, reforçou.

Durante o painel, Ventura afirmou que o impacto dos eventos somente na hospitalidade é de cerca de R$ 12 bilhões por ano. No primeiro semestre, quase 50% das pessoas que vieram a São Paulo para eventos são de fora do estado, o que colabora significativamente para elevar a arrecadação do segmento.

Raffaele Cecere
“É preciso cautela para analisar o cenário”, disse Cecere

Indo na contramão do raciocínio dos demais participantes, Cecere salientou que, no cenário atual, há uma preocupação porque grande parte dos espaços de eventos não estão dentro de hotéis. “Ou seja, os eventos estão acontecendo e o hoteleiro continua vendendo metro quadrado. E isso é preocupante”, analisou.

“Assim, temos nos esforçado para que os hotéis não percam tração. A hotelaria muitas vezes se acomoda, e é aí que se perde oportunidades valiosas”, concluiu.


Os desafios do corporativo

Na continuidade da programação do Hotel Trends Orçamentos, foi apresentado o debate Travel Managers e TMCs: o que esperar das RFPs em 2026?. A conversa abordou a nova lógica das negociações, o papel da conectividade e da tecnologia, entre outros pontos.

O painel contou com a presença de Elvimar Soares, sócio da Onfly; Gervásio Tanabe, head Business Travel Sales & Marketing da Quickly Travel; Isabele Grechi, gerente de Hospitality e Novos Negócios da B2B Reservas; e Rodrigo Cezar, Events and Travel manager da Roche para Brasil e América Latina.

A mediação ficou novamente a cargo de Henrique Campolina e Paulo Salvador, da Noctua Advisory. Abrindo o debate, Soares destacou que o momento é de otimismo no mercado corporativo brasileiro, apesar dos desafios, já que os clientes estão cada vez mais conscientes de que a relação com as empresas de viagens precisa ser de ganha-ganha.

“As conversas são cada vez mais abertas, como devem ser. Além disso, ao analisar mercados mais maduros, conseguimos identificar oportunidades de evolução no nosso”, afirmou o executivo da Onfly.

Cezar ressaltou que o setor passou por mudanças significativas. “Hoje, a hotelaria precisa compreender como fortalecer a relação com o cliente. Minha expectativa é evoluirmos nesse sentido”, acrescentou.

Complementando, Isabele destacou que a tecnologia já permite negociações mais transparentes. “É possível programar antecedência de compra para taxas específicas, por exemplo”, exemplificou.

STR como solução

Durante o debate no Hotel Trends Orçamentos, Salvador levantou a questão de que os empreendimentos que operam no modelo de short-term rental podem ser uma alternativa para atender à demanda corporativa.

“Como travel manager, vejo o short-term rental como um caminho necessário. É inevitável não considerá-lo”, pontuou Cezar. Tanabe seguiu a mesma linha, reforçando que o segmento deve ser tributado como a hotelaria tradicional.

Gervásio Tanabe
Tanabe fez pontuações sobre os desafios do segmento

“Nós não queremos lidar com problemas que ocorram durante a estada de um executivo em um imóvel, algo que poderia ser resolvido com regras mais claras”, afirmou o executivo da Quickly Travel. “Tudo depende se a empresa quer assumir esse risco. Por questões de segurança, preferimos recomendar empreendimentos tradicionais, embora o cliente tenha liberdade de escolha”, complementou.

Soares finalizou ressaltando que uma das principais mudanças no corporativo é o esforço das empresas em estreitar a relação com o cliente por meio de informações claras. “É preciso tratar o cliente como alguém independente, capaz de compreender os dados que fornecemos na plataforma. Só assim conseguiremos evoluir”, concluiu.


Desafiando o senso comum para elevar a experiência

Na sequência da programação focada em empreendimentos urbanos, o painel Desafiando o status quo hoteleiro: novos formatos que mudam a lógica de operação e aumentam as margens discutiu transformações relevantes na hotelaria, além de novas estratégias para aprimorar a experiência do hóspede.

Participaram da conversa Andrea Natal, sócia da AN Consultoria; Beto Caputo, CEO da Atrio Hotel Management; Beto Sobrinho, Solution e Business manager para Brasil e Mercado Internacional – Hospitality e Food Service da TOTVS; e Paulo Mancio, Executive Managing director da CBRE – Hospitality.

A mediação ficou a cargo de Henrique Campolina e Paulo Salvador, da Noctua Advisory. Abrindo o debate, Campolina questionou Caputo e Sobrinho sobre a automação na recepção e a implementação da inteligência artificial no check-in, indagando se essa é uma tendência para o futuro.

“Ou a hotelaria se moderniza e transforma seu status quo, ou será ultrapassada por novos modelos. O short-term rental, por exemplo, apresenta aprendizados e desafios, como a ausência de café da manhã. Sem dúvida, a modernização da hotelaria passa por conhecer o cliente a fundo e aprimorar os cadastros”, afirmou Caputo.

Sobrinho destacou que a tecnologia pode ser uma aliada estratégica. “A tendência é que os recursos tecnológicos beneficiem a hotelaria, mas ainda há um longo caminho a percorrer. Nesse período, o papel do ser humano continuará sendo essencial”, acrescentou.

Tendências para o setor

No debate do Hotel Trends Orçamentos, Andrea ressaltou que, nos hotéis de luxo, o contato humano permanece central. Segundo ela, uma recepção totalmente automatizada torna o atendimento excessivamente robótico.

Painel Status Quo
Painel debateu estratégias de inovação

“As pessoas buscam interação. Falamos de bem-estar, de cuidado com o hóspede. Então, por que automatizar a recepção? Faz mais sentido aplicar essas tecnologias no backoffice”, completou a consultora.

Mancio reforçou a importância de desafiar modelos pré-estabelecidos. “É fundamental que o setor esteja atento às tendências, antecipando-se a elas. Devemos estar totalmente inseridos nos mundos da tecnologia e da sustentabilidade, promovendo mudanças disruptivas em nossos hotéis”, acrescentou.

Cenário na prática

Caputo destacou que o turnover é um desafio para essa mudança de paradigma. Segundo ele, os hotéis precisam aprender a operar com equipes mais enxutas sem perder eficiência.

Andrea complementou que a polivalência dos profissionais é uma tendência para otimizar operações, com a tecnologia atuando como importante aliada. “Se, por um lado, a tecnologia reduz o contato humano, por outro, permite que os profissionais deixem de realizar tarefas repetitivas e se concentrem em ações que realmente impactem positivamente a experiência do hóspede. Tudo é uma questão de equilíbrio e de entender o que não faz mais sentido na realidade do empreendimento”, finalizou.


Como elevar o GOP? 

No segundo turno do dia, o Hotel Trends Orçamentos deu início ao momento de conteúdos simultâneos. Na sala Américas, foram discutidas tendências e desafios da hotelaria urbana. Abrindo a programação, foi apresentado o painel Como superar GOP (Lucro Operacional Bruto) de 50% em hotéis?

Participaram do debate Guilherme Martini, VP de Operações, Vendas e Marketing da Atlantica Hospitality International; Luiz Henrique Silva, diretor Financeiro do Rosewood São Paulo; Olivier Hick, COO da Accor para a divisão Premium, Midscale & Economy; e Railison Godoy, superintendente Financeiro do Grupo Fasano. A mediação ficou por conta de Henrique Campolina e Renata Cassini, da Noctua Advisory.

Logo no início, Campolina questionou Godoy sobre os desafios na perspectiva da hotelaria de luxo. “Quando pensamos na hotelaria de luxo, temos um custo muito caro, que é a satisfação do hóspede. É muito fácil se perder nessa gestão. Assim, precisamos olhar com atenção para essas despesas, a fim de equilibrar a equação”, afirmou o executivo do Fasano. Ele destacou ainda que o A&B (Alimentos & Bebidas) tem papel fundamental na construção de um GOP acima dos 50%. “O fundamento da estratégia está no preço e no produto”, complementou.

Martini, por sua vez, trouxe a visão do segmento econômico e lifestyle. “Quando falamos da hotelaria midscale, é impossível alcançar patamares de GOP mais altos sem considerar uma diária mais elevada. A melhor estratégia é sempre maximizar as tarifas e buscar receitas auxiliares. Como legado da pandemia, os hotéis aprenderam a operar de forma mais eficiente, e isso foi um grande diferencial do setor”, avaliou.

Olivier Hick
“Manter qualidade é fundamental”, disse Hick

No Hotel Trends Orçamentos, Hick foi questionado por Campolina sobre os diferentes cenários para hotéis econômicos e midscale, especialmente no modelo de negócios, que, no caso dos econômicos, reduz a margem de lucro. Segundo o executivo da Accor, o desafio dos últimos anos é a percepção do cliente. “Não queremos perder a qualidade, estamos sempre buscando o equilíbrio”, disse.

Outros insights

Na sequência, Renata destacou o turnover como um dos principais vetores de aumento de custos na hotelaria brasileira e perguntou a Silva como o setor de luxo lida com esse tema. “No luxo, temos mais espaço para investir em treinamentos e capacitações, o que contribui para reter funcionários e reduzir essa rotatividade”, ressaltou.

Pela perspectiva da Atlantica, Martini apontou os avanços em automação de processos, substituindo mão de obra em funções que não interferem na experiência do hóspede. “Desenvolvemos, com parceiros de tecnologia, um totem para recepção de hotéis, no qual o hóspede faz o check-in completo e sai com a chave do quarto em mãos. É uma forma de depender menos de mão de obra e aumentar a eficiência da operação”, explicou.

Os participantes também discutiram a taxa de serviço de 10% como ferramenta para diminuir o turnover. Em muitos empreendimentos, esse percentual é aplicado sobre os serviços oferecidos, sendo posteriormente distribuído entre colaboradores de todos os departamentos.

O painel do Hotel Trends Orçamentos evidenciou que alcançar GOP acima de 50% exige estratégias diferentes para cada segmento, indo do controle de custos ao uso de tecnologia, passando pela gestão de pessoas e pela diversificação de receitas. O equilíbrio entre qualidade, eficiência e rentabilidade segue como um dos principais desafios da hotelaria no Brasil.

(*) Crédito das fotos: Bruno Churuska/Hotelier News