O bom momento do setor hoteleiro é evidente e os dados não deixam mentir. No pós-pandemia, a hotelaria de luxo saiu na frente das demais categorias, se beneficiando das fronteiras fechadas para outros países e dos clientes abastados com sede de viagem. Com a Covid-19 no passado, os últimos anos foram de uma verdadeira escalada de resultados para hotéis de alto padrão, e 2024 não foi diferente. Segundo o Anuário da BLTA (Brazilian Luxury Travel Association), no período, seus associados movimentaram R$ 3,3 bilhões, avanço de 12,7% frente aos R$ 3,1 bilhões registrados em 2023.
O levantamento, realizado em parceria com o Senac São Paulo, foi apresentado hoje (26), em evento realizado na Casa de Cultura do Parque, na capital paulista. O relatório reforça o crescimento do turismo de luxo no país, pautado por saltos na diária média e RevPar dos empreendimentos associados.
Em 2024, a diária média chegou a R$ 3,2 mil, alta de 29,3%, enquanto o RevPar somou R$ 1,5 mil (+ 11,7%). O número de hóspedes atendidos alcançou mais de 1 milhão no período. Já a média de colaboradores por UH (Unidade Habitacional) foi de 3,16 (nível elevado em relação à hotelaria tradicional).
Camilla Barretto, CEO da BLTA desde outubro do ano passado, destacou os pilares da entidade que permeiam as ações, como turismo renegerativo, posicionamento global do Brasil, qualificação, inteligência de mercado e promoção coletiva dos associados.
“O nosso objetivo é ampliar a voz que o luxo hoje é indissociável de conexão emocional e propósito e temos a responsabilidade de promover o turismo causando impacto positivo”, disse. Segundo ela, o Anuário reúne dados de hotéis e operadores preocupados em deixar um legado para as futuras gerações. “Este deve ser o objetivo do turismo de luxo brasileiro”, pontuou.
O professor Julio Butuhy, do Senac São Paulo, falou sobre o trabalho realizado ao lado da BLTA. “Este é o anuário mais completo do setor, pois não contempla apenas dados de ocupação, diária média e RevPar. É um estudo que concentra informações sobre a origem dos clientes, iniciativas ESG e dados de mão de obra”, ressaltou. O docente e pesquisador ainda reforçou que os dados são sigilosos e que não é de interesse do relatório saber indicadores individualizados dos associados.

Resultados das operadoras
O estudo da BLTA também mostra avanços nas operadoras de viagens. O ticket médio doméstico foi de R$ 15,6 mil (+ 67%), enquanto o ticket médio inbound, de clientes internacionais, chegou a R$ 20,4 mil (+ 33,4%). A maioria das viagens domésticas (86%) teve duração de até sete dias, enquanto 55% dos turistas internacionais optaram por períodos mais longos, de 8 a 14 dias.
“Tivemos um saldo final positivo em 2024 para 60,8% dos meios de hospedagem respondentes. Dentre as operadoras, 60% consideraram o ano positivo e 40% o consideraram muito positivo”, afirmou Camilla. “O Brasil segue aumentando os números de turistas internacionais consistentemente desde o início do ano, e certamente 2025 baterá muitos recordes.”
Dados de perfil do hóspede
Perfil do hóspede – Origem
- Brasil: 68,8%
- Europa: 14,9% (maioria França)
- América do Norte: 9,6% (principalmente Estados Unidos)
- América Latina: 4,6% (Argentina em destaque)
Motivos de viagem
- Lazer (férias, feriados e finais de semana): 60%
- Negócios/eventos: 10%
- Viagens com família/amigos: 10%
- Tipo de hóspede: 67,9% são viajantes individuais independentes (FIT)
- Tempo médio de permanência: 59% dos hóspedes ficam até 3 diárias
- Origem das reservas: 45,6% (balcão/venda direta), 22,7% (OTA – agências de viagem online) e 16% (operadoras)
Eventos e Destinos
- Eventos que mais atraem hóspedes: Réveillon (87%), Carnaval (73%) e Casamentos (58%)
- Destinos mais procurados: Rio de Janeiro (capital), Foz do Iguaçu, Pantanal, litoral da Bahia, Manaus e Salvador
Sustentabilidade em foco
O levantamento também reforça o papel da sustentabilidade na hotelaria de luxo. Entre os hotéis, 96% compram de produtores locais, 94% reduziram o uso de plástico e 91% oferecem plano de carreira para colaboradores. Além disso, 69% dos hotéis e 67% das operadoras apoiam projetos socioambientais.
No fim de 2024, 37% dos hotéis e 33% das operadoras já tinham iniciado processos de certificação em ESG. Os principais focos de projetos foram educação, desenvolvimento econômico e conservação ambiental.
Novos associados
O Anuário também marcou a entrada de dois novos hotéis ao portfólio da BLTA: o Saline Taíba, localizado em São Gonçalo do Amarante (CE), e o Pontal dos Carneiros Bungalows, em Tamandaré (PE). Ambos passaram por visita técnica e responderam a um questionário com mais de 250 questões no processo de candidatura.
“Esta avaliação, por meio da metodologia do Cliente Oculto, traz mais credibilidade e transparência, assegurando de forma objetiva e isenta a qualidade dos membros da associação”, afirmou Camilla.
José Worcman, CEO da OnYou Cliente Oculto, empresa parceria da entidade no processo de avaliação, comentou que o questionário passou por muitas idas e vindas, até que a associação chegasse a um modelo que abrangesse todas as propriedades. “Foi um desafio criar padrões técnicos para avaliar hotéis tão distintos, mas chegamos a um modelo único e comparativo”.
(*) Crédito da capa: Divulgação/BLTA
(**) Crédito da foto: Nayara Matteis/Hotelier News