A delegação brasileira fez história nos Jogos Paraolímpicos de Paris deste ano, ficando em quinto lugar e conquistando 89 medalhas, sendo 25 de ouro, na melhor campanha do país na história da competição. Há uns três meses, Andrea Ferreira, sommelier e especialista em vendas no mercado do vinho, realizou o Acessibilidade na Taça, primeiro evento focada na experiência da degustação de vinhos para PCD’s.
E não me esqueço também da capacitação, em maio, durante o Expo Fórum Visite São Paulo, com a Jéssica Paula sobre acessibilidade. Jornalista e empreendedora, além de especialista em diversidade e inclusão, ela fez um alerta que todos nós, em algum momento, precisaremos de acessibilidade – e o turismo ainda está muito atrasado neste tema, lembrando que Jéssica foi a primeira mulher paraplégica a escalar o Pão de Açúcar, no Rio de Janeiro.
Acima narrei feitos incríveis realizados por PCD’s, mas, ao olhar atualmente para os meios de hospedagem no Brasil, pergunto-me: onde está a hospitalidade para PCD’s? Reforço que hospitalidade, em definição simples, que dizer ” bem receber ” e a prática desta definição vai além de cumprir uma obrigação, apenas o que a lei exige. Digo isso porque, infelizmente para as pautas de diversidade e inclusão, com raras exceções, a hotelaria no geral faz apenas o básico. Por isso, fico pensado o quão decepcionante deve ser para uma pessoa PCD (Pessoa Com Deficiência) não ter opções de hospitalidade, de apenas pensar em hospedar-se em um bom hotel sem maiores preocupações.
Recentemente, as entidades da hotelaria consideraram “exagerado” o Projeto de Lei nº 3835/23, que exige que 20% dos quartos em hotéis e pousadas sejam acessíveis, garantindo pelo menos um quarto adaptado por meio de hospedagem. Vale destacar que a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência é de 2015, sendo que, em 2022, o prazo de adequação foi prorrogado para junho deste ano, com outro novo prazo para dezembro.
A pergunta simples que faço é que, se desde de 2015 os meios de hospedagem fossem gradualmente aumentando o número de quartos acessíveis, talvez este debate nem existiria. Outro argumento que ouvi foi que ter esta quantidade de quartos acessíveis prejudicaria os valores tarifários. Ou seja, o “lucro” vem acima da inclusão. E, por último, disseram que a demanda de hóspedes PCD’s é baixa… Para mim, a reflexão é básica: a demanda deste público não é justamente baixa por falta de opção de hotéis com quartos acessíveis?
Segundo dados do IBGE de 2024, temos aproximadamente 20 milhões de pessoas com algum tipo de deficiência no Brasil, o que representa aproximadamente 9% da população. Esse público, de acordo com o mesmo estudo, tem renda média de R$ 1.860, menor acesso à educação e, consequentemente, a oportunidades de trabalho. Infelizmente, quando a maior parte da hotelaria “resiste” a recebê-los, não temos como dizer que no momento existe hospitalidade para PCD’s no país, pois não são vistos como potenciais clientes, mascomo um “problema” em suas estruturas.
Uma pena, pois vimos nos Jogos Paraolímpicos de Paris deste ano que, com o devido apoio e estrutura, PCD’s podem realizar feitos extraordinários.
Hubber Clemente é fundador da startup Afroturismo HUB, focada na inclusão e diversidade racial no turismo, atuando a mais de três anos com o tema. Hoteleiro , com mais de 25 anos de carreira no setor, com atuação profissional na Accor, Blue Tree Hotels , Maksoud Plaza, Decolar e outras grandes empresas do turismo, hospitalidade. Especialista em vendas e marketing, com formações em Gestão de Viagens e Eventos Corporativos, Big Data, Design Thinking, Diversidade & Inclusão e LinkedIn Creator Acelerado.

(*) Crédito da capa: Arquivo pessoal