A IA (inteligência artificial) pode transformar o mercado de trabalho no Brasil, afetando 37% dos empregos, segundo um estudo inédito da OIT (Organização Internacional do Trabalho), como aponta a reportagem do O Globo. Este percentual representa cerca de 37 milhões de postos de trabalho, sendo um dos mais altos entre os países da América Latina e Caribe, superado apenas pela Costa Rica. A pesquisa revela que a IA generativa pode causar mudanças significativas na forma de trabalho, impactando diversos setores econômicos, visto que 65% das empresas já usam a ferramenta.

O relatório aponta que os empregos mais vulneráveis à substituição por IA são aqueles ocupados por mulheres, jovens, residentes em áreas urbanas e com nível de instrução médio a alto. No Brasil, as profissionais do sexo feminino têm duas vezes mais chances de serem substituídas pela automação em comparação aos homens. Este padrão reflete a tendência regional e é atribuído à concentração das mulheres em setores como administração, finanças, seguros e funções no setor público.

Embora a parcela de trabalhadores que podem perder seus empregos para robôs automatizados seja relativamente baixa na América Latina e Caribe, variando entre 2% e 5%, o Brasil se encontra no limite inferior deste intervalo. A OIT explica que a menor presença de infraestrutura digital na região serve como um “amortecedor temporário” contra a automação.

No Brasil, 22% dos postos de trabalho estão em uma categoria de “grande incerteza”, indicando que esses empregos podem se aproximar do risco de automação ou se beneficiar da IA, dependendo do progresso tecnológico. Esta dúvida destaca a necessidade de políticas para preparar os trabalhadores para possíveis mudanças no mercado de trabalho.

Por outro lado, a IA também tem o potencial de aumentar a produtividade em 13% dos postos de trabalho no Brasil. Este grupo é composto principalmente por profissionais com renda mais alta, maior nível de educação e empregos formais. No entanto, a OIT adverte que os ganhos de produtividade podem ser limitados devido a deficiências digitais na região. Estima-se que cerca de 17 milhões de empregos em 16 países da América Latina e Caribe poderiam se beneficiar da tecnologia, mas barreiras como infraestrutura inadequada, acesso limitado à ferramenta, custos, baixo capital humano e desigualdade digital dificultam o cenário.

Necessidade de políticas inclusivas

A OIT destaca que os países da América Latina e Caribe têm uma oportunidade de reduzir a lacuna histórica de baixa produtividade em suas economias por meio da IA. No entanto, para que isso aconteça, são necessárias melhorias na infraestrutura digital, programas de aprendizagem contínua para trabalhadores, e políticas de proteção social que atendam especialmente aos grupos mais vulneráveis, incluindo questões de gênero.

O relatório enfatiza que o impacto da IA na desigualdade dependerá de como os benefícios de eficiência e produção serão distribuídos em comparação à substituição de trabalhadores por tecnologia. Portanto, fortalecer as proteções sociais e implementar políticas inclusivas são essenciais para mitigar os riscos e maximizar os benefícios da tecnologia no mercado de trabalho.

(*) Crédito da foto: Pixabay