Desde 10 de julho de 2025, a decisão do Instagram de permitir que postagens públicas de contas profissionais sejam indexadas pelo Google vai além de uma simples atualização técnica. Trata-se de um reposicionamento estratégico que transforma a plataforma de um ambiente fechado para uma verdadeira “potência de conteúdo pesquisável”.
Segundo informado pelo Phocuswire, essa mudança tem impacto direto no setor de viagens, onde a narrativa visual passou a ser a principal forma de inspirar e influenciar decisões dos consumidores. Para entender o alcance dessa mudança, é preciso considerar como o Instagram já vinha moldando a forma como as pessoas descobrem destinos.
A plataforma deixou de ser apenas um app de fotos para se tornar uma espécie de vitrine global de revistas de viagem — só que atualizada em tempo real, por milhões de usuários ao redor do mundo. Isso criou um novo modelo, em que inspiração e informação se misturam de forma orgânica.
Novas diretrizes para empresas de turismo
Agora, o conteúdo publicado no Instagram passa a competir diretamente com páginas de sites tradicionais, reportagens e até respostas geradas por IA (inteligência artificial) nos resultados de busca do Google. Com isso, as estratégias da rede social e SEO deixam de ser paralelas e passam a caminhar juntas.
Duas recomendações centrais surgem para negócios de turismo que desejam tirar proveito dessa nova dinâmica:
1. Tratar cada post como uma landing page otimizada
A primeira ação necessária é repensar cada publicação como um potencial resultado de busca. Isso exige deixar de lado uma abordagem focada apenas em engajamento e adotar uma lógica de conteúdo guiado por intenção de busca.
Empresas de turismo devem ver seus posts como mini-landing pages, com legendas otimizadas que respondam a perguntas frequentes dos usuários. Em vez de uma legenda genérica como “Vistas incríveis do nosso bar na cobertura”, um hotel pode publicar algo como: “Onde assistir ao melhor pôr do sol em [destino]? Nosso bar na cobertura oferece vistas panorâmicas de [pontos turísticos específicos], aberto diariamente a partir das 17h, com coquetéis artesanais e petiscos leves.”
Alguns cuidados técnicos são importantes:
- Legenda otimizada: a primeira linha funciona como título da página.
- Texto alternativo descritivo: melhora a acessibilidade e dá contexto ao Google.
- Vídeos acessíveis: reels e vídeos devem ter sobreposição de texto e legendas.
- Perfil otimizado: o nome de usuário, nome de exibição e bio devem conter termos-chave. Exemplo: um hotel pode usar “@casanovalisbon | Hotel com design em Lisboa” no nome de exibição, deixando claro seu posicionamento e destino.
2. Integrar redes sociais e SEO em uma só estratégia
Unir os esforços das equipes de social media e SEO é essencial. O ideal é que as empresas promovam colaboração entre os dois times: um domina conteúdo visual e engajamento, o outro, palavras-chave e intenção de busca.
O foco deve estar na criação de “conteúdo educativo com valor real” — guias práticos, dicas locais, respostas a dúvidas frequentes e bastidores. Um resort, por exemplo, pode produzir séries de posts que respondam a questões comuns, como “Como ir do aeroporto ao nosso resort”, “Melhores restaurantes locais a uma curta distância” ou “O que levar para atividades em [destino]”.
Quem sai ganhando com essa mudança
A nova integração favorece marcas que dominam a narrativa visual. Empresas que produzem “conteúdo altamente visual e baseado em histórias” devem ver suas publicações ganharem visibilidade em pesquisas no Google.
Duas categorias em especial tendem a se beneficiar:
1. Hotelaria boutique em ascensão
Grandes redes, como Marriott, normalmente dominam as buscas com seus orçamentos robustos e presença digital consolidada. Mas agora, pequenos hotéis e pousadas com conteúdo autêntico ganham espaço. Aquele bed and breakfast na Toscana, com fotos do dono mostrando o nascer do sol em seu vinhedo, pode aparecer nos mesmos resultados de pesquisa de um gigante do setor.
A vantagem está na autenticidade. Enquanto redes têm dificuldade para mostrar personalidade, hospedagens menores conseguem comunicar histórias únicas que performam bem no Instagram e no Google. Em buscas como “escapadinha romântica de fim de semana no Vale de Napa”, uma pousada com 12 quartos e conteúdo personalizado pode rivalizar com um resort de 200 quartos.
2. Experiências e turismo de aventura
Operadores de passeios e experiências também devem ganhar protagonismo. Passeios de tirolesa na Costa Rica, tours gastronômicos em Bangkok ou passeios de barco na Grécia são exemplos de serviços que sempre se destacaram visualmente no Instagram — e agora podem aparecer em buscas como “coisas para fazer em [destino]”.
Essas empresas já dominam o “marketing de momento”, capturando emoções reais: o salto de bungee jump, os golfinhos no passeio de barco, a aula de culinária na casa de um morador. Esse tipo de conteúdo sempre teve apelo, mas agora poderá ser descoberto via busca orgânica também.
O futuro do marketing de viagens passa pelas redes sociais
A integração com o Google é apenas o início de uma tendência maior: a convergência entre mídias sociais, ferramentas de IA e mecanismos de busca. À medida que plataformas como ChatGPT, Perplexity e o AI Overviews do Google ganham relevância, o conteúdo deixará de ser apenas indexado — passará a ser avaliado e selecionado com base em credibilidade.
Nesse novo cenário, o conteúdo gerado por usuários em redes sociais se torna um dos sinais mais fortes de autoridade e relevância. Empresas que souberem usar o Instagram como ferramenta de engajamento, SEO e geração de autoridade em temas específicos sairão na frente.
(*) Crédito da capa: Unsplash