braztoa45% das empresas não realizaram nenhuma venda em março

Com muitos cancelamentos e adiamentos de viagens, associadas da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo) sentiram o baque do coronavírus. Em março, o impacto no faturamento foi de R$ 3,6 bilhões, ou seja, 25% do arrecadado em 2019 (R$ 15,1 bilhões).

A entidade promoveu uma pesquisa com parceiros para medir os prejuízos comerciais e trabalhistas causados pela crise, além de perspectivas de retomada.Os dados, que refletem o mês de março, quando começou a quarentena, mostram que as vendas foram duramente afetadas, o que demanda a implementação rápida de políticas públicas de apoio ao setor de turismo, um dos mais afetados pela crise.

Os números mostram que 45% das empresas pesquisadas não realizaram nenhuma venda no mês de março. Outras 45% afirmaram que as comercializações representam, no máximo, 10% do movimento registrado em março de 2019. Esses números refletem as atividades das primeiras duas semanas de março quando o mercado, apesar do bloqueio de vendas para alguns destinos internacionais, ainda se mantinha em funcionamento.

Um ponto de atenção é que, entre as vendas realizadas, cerca de 70% são para embarque no segundo semestre de 2020, ou seja, a efetivação das viagens poderá ficar comprometida se perdurar a manutenção de medidas restritivas e o avanço do Covid-19.

Braztoa: cancelamentos e adiamentos

Os cancelamentos afetaram 98% das empresas. Das operadoras pesquisadas, 32% registraram até 30% de cancelamentos, 13% das operadoras tiveram entre 30 a 50% de cancelamentos, 17% destas empresas constataram entre 50 e 75%. Para mais de um terço dessas empresas (36%), o maior grupo de operadoras, os cancelamentos chegaram entre 75 e 100%, representando números altíssimos.

Considerando o universo de viagens canceladas, pouco mais de um terço dos clientes já recebeu o reembolso à vista, mostrando que nem todas as operadoras puderam aguardar a publicação da MP 948. Entre os demais: 43% vão receber dentro do período de carência para reembolso, 11% optaram por carta de crédito e cerca de 10% dividem-se em recebimento de forma parcelada ou negociada. Vale ressaltar que 96% dessas operações tiveram acordos amigáveis entre clientes e operadoras, sem o envolvimento de órgãos como o Procon e Senacon, o que denota uma maior maturidade nas relações comerciais, pautadas pela boa-fé e bom-senso de ambas as partes.

Sobre o adiamento das viagens, três quartos das empresas estão com adiamento superior a 50% (37% relatam que administram em torno de 50 a 75% de prorrogações, 28% entre 75 e 90% e outros 11% entre 90 e 100%). O restante, em torno de 24%, registra adiamentos inferiores a 50% das vendas comercializadas antes da pandemia.

Considerando os cancelamentos e adiamentos juntos, os impactos registrados até o o final de março foram: 90,4% dos embarques de março, 96,2% dos embarques de abril, 94,2% dos embarques de maio, 63,5% dos embarques de junho. Apesar de não existirem dados concretos sobre a expansão da doença a partir do segundo semestre e, inclusive, previsões atuais mostrarem uma tendência de normalização a partir de agosto, os cancelamentos se estendem, atingindo 26,9% dos embarques previstos para o segundo semestre de 2020 e 3,8% embarques de 2021.

Em termos financeiros, esses mesmos cancelamentos e adiamentos de viagens somaram cerca de R$ 3,9 bilhões, ou seja, 25% do faturamento de 2019 das operadoras Braztoa, sendo R$ 3,5 bilhões no primeiro semestre, R$ 350 milhões no segundo semestre e R$ 50 milhões em 2021, números que podem aumentar caso se prolongue a crise gerada pela pandemia.

Redução Custos

Um dado delicado da crise é seu efeito dominó em relação às empresas que atuam no setor. 98% das operadoras já reduziram seus custos operacionais, 17% delas em até 25%, 61% entre 25 e 50%, 20% entre 50 e 75% e apenas 2% acima de 75%. Já 28% dessas empresas encerraram contratos, 28% suspenderam por tempo determinado, e mais de 30% dessas operadoras suspenderam por tempo indeterminado. Quase 75% renegociaram valores e apenas cerca de 6% ainda não praticaram alterações com empresas terceirizadas.

Para 43% das operadoras, os impactos da redução de custos atingiram acima de 10 empresas terceirizadas. Para 57%, entre 1 e 10 empresas foram impactadas pelas reduções, suspensões e cancelamentos de contratos.

Recursos Humanos

A pesquisa mostra que, apesar da queda de faturamento, há um esforço das operadoras em manter os seus colaboradores. Entre 29/02 e 31/03, houve um corte de 10% de funcionários. Quando questionadas sobre o mês de abril, 55% das operadoras não pretendem fazer demissões, 9% pretendem reduzir até 10% do seu quadro de funcionários, 17% vão reduzir até 25%, 15% vão reduzir até 50% e apenas 4% pretendem fazer até 75% de demissões.

Para não demitir, 78% das empresas promoveram reduções de carga horária e salários, 74% deram férias a seus colaboradores, 22% promoveram licenças remuneradas e 20% suspenderam contratos temporariamente.

Retomada do setor

A pesquisa também questionou os associados em relação às expectativas para normalização do mercado de turismo. 91% das empresas não prevê vendas no mês de abril. Apenas 12% dos associados acreditam que haverá retomada até o mês de julho, 36% apostam no segundo semestre,  43% apontam que o setor voltará ao normal apenas em 2021 e 9% dos entrevistados não conseguem ainda prever a retomada dos negócios.

Dentro disso, 41% das empresas esperam um faturamento até 50% menor em 2020, 39% esperam uma queda entre 50 e 75% e 20% uma queda maior que 75%.Ainda em relação ao momento de retomada dos negócios, no que se refere aos destinos, 72% das operadoras acreditam que o Brasil esteja no topo das procuras, seguido da América do Sul, com 15% das indicações e Oriente Médio com 5%. As regiões da América do Norte, Europa, América Central e Caribe, Ásia e Oceania seguem no final da lista com 2% das indicações.

(*) Crédito da foto: geralt/Pixabay