Em reflexo direto das dispensas provocadas pelas medidas de restrição ao coronavírus, o desemprego voltou a aumentar no Brasil. Segundo dados divulgados hoje (28) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de trabalhadores desempregados no país soma 12,8 milhões.

Trata-se do maior nível em um ano no trimestre encerrado em abril, com perdas recordes na ocupação. A taxa de desemprego apurada pelo IBGE atingiu 12,6% entre fevereiro e abril, de 11,2% no trimestre encerrado em janeiro. Em igual período de 2109, o indicador era de 12,5%. O percentual ficou abaixo da expectativa medida em pesquisa feira da Reuters, de 13,3%.

Com a forte retração já vista na economia, o número de desempregados de fevereiro a abril chegou a 12,811 milhões. No trimestre anterior encerrado em janeiro, o total era de 11,913 milhões. “O isolamento foi responsável para os movimentos acentuados do mercado de trabalho”, diz Adriana Beringuy, analista da pesquisa do IBGE. 

Na hotelaria, esse movimento é visível. Grandes redes, por exemplo, viram-se obrigadas a desligar colaboradores. O mesmo ocorreu em hotéis independentes. Por isso, por meio do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), redes associadas vêm buscando entendimento com o governo federal para prorrogação da MP 936. 

Promulgada em abril, a medida provisória permite a suspensão de contratos, bem como redução de jornada e de salários. Em entrevistas recentes ao Hotelier News, Patrick Mendes e Eduardo Giestas declararam a prorrogação da MP será essencial para a manutenção de empregos.

Desemprego - números maio_José PastorePastore participou, em 2018, do fórum promovido pelo FOHB, em São Paulo 

Desemprego e MP

A opinião é compartilhada por José Pastore, professor da USP (Universidade de São Paulo) e um dos maiores especialistas do mercado de trabalho no país. Em entrevista a Reuters, Pastore disse que o governo terá que renovar os programas para conter demissões para amortecer o impacto das medidas de isolamento social sobre o emprego.

Para ele, as perspectivas de novas contratações nos próximos meses são muito limitadas. Pastore prevê ainda dois ou três anos de “muito sofrimento” para o mercado de trabalho. “A retomada do comércio e dos serviços será gradual, será setorial, será sequenciada, vai ter uma série de requisitos para manter distanciamento. E mesmo se continuarem abertas não vão precisar de tantos empregados como precisavam antes”, comenta.

Diante desse quadro, Pastore considera indispensável a prorrogação dos programas de preservação de empregos, cuja validade encerram no final do ano. Ainda assim, o especialista alerta que, com o tempo, as medidas se tornam menos efetivas sem a volta das receitas das empresas.

“Vão ter que criar outras coisas para ver se segura um pouco mais o emprego porque, do contrário, vamos ter um quadro avassalador nesse país que tem uma força de trabalho muito grande, de mais de 100 milhões de pessoas”, finaliza.