Artur MarojaMaroja é o presidente da ABIH-PE desde 2015

O aumento na presença de turistas estrangeiros (alta de 67% no primeiro semestre) serve de indício para revelar o momento vivido pelo setor hoteleiro em Pernambuco. Às voltas com o fantasma da superoferta nos últimos anos, os meios de hospedagem pernambucanos agora flertam com um termo que soa como alento: a recuperação. No acumulado de 2018, segundo dados da ABIH-PE (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) estadual, a média de ocupação hoteleira é de 71% para empreendimentos de perfil lazer e 60% nas unidades business. Nos dois casos, com perspectiva de subida até dezembro e, para os próximos anos, a curva ascendente deve se manter.

"Estamos passando por um momento de adaptação, uma nova realidade para a hotelaria do estado", avalia Artur Maroja, presidente da ABIH pernambucana, em conversa com a reportagem do Hotelier News. O executivo acredita que há um cenário propício para uma virada, com a volta da boa procura e, posteriormente, com aumento nas diárias médias, que estão com preços congelados há cerca de três anos.

Para entender os motivos do otimismo atual, contudo, é necessário olhar no retrovisor. De acordo com Maroja, a escolha de Recife como uma das cidades sede para a Copa do Mundo 2014 criou demasiada oferta de hotéis no destino. Na comparação entre 2013 e 2015 notou-se que o inventário de leitos da capital pernambucana mais que dobrou. Em números objetivos, significa dizer que a quantidade de leitos foi de 7 mil para 15 mil na capital – um terço da oferta no estado, que é de 45 mil leitos. 

"Criou-se um cenário de superoferta de leitos justamente num momento de instabilidade política e econômica do país. Pernambuco sentiu bastante esse processo", lembra o presidente.

RecifeO Marco Zero é um dos locais mais conhecidos de Recife​​

Esse panorama começou a mudar, segundo informa o dirigente, no ano passado. "Somente em 2017, com a economia dando sinais de recuperação e a política um pouco mais estável, a hotelaria começou a sentir o fluxo turístico voltando", comenta. O retorno do fluxo citado por Maroja está relacionado ao posicionamento renovado de Recife como destino de lazer, diversificando o público que visita a principal porta de entrada do estado. "Temos feito um trabalho de reinserir Recife como opção viável para o turismo de lazer, que foi perdido ao longo do tempo. Esse trabalho já nos mostrou alguns resultados, com um bom segundo semestre de 2017", diz.

Outro fator que contribuiu com o aumento na movimentação é o crescimento da malha aérea no Aeroporto Internacional de Recife/Guararapes. O complexo tornou-se um hub nordestino de voos internacionais e nacionais. Foram incluídos na lista de chegadas, rotas que vem de países como Portugal, Alemanha, Espanha, Cabo Verde, Argentina, Uruguai, Colômbia e Estados Unidos.

Com o aumento da conectividade, abriu-se uma porta para ações conjuntas de iniciativa privada e pública a fim divulgar com mais ênfase os destinos pernambucanos. "A hotelaria tem ido a outros destinos fazer roadshows e realizar eventos. Sempre tentando estimular a demanda, para que os turistas venham conhecer nosso estado", afirma.

Maior ênfase no turismo de lazer e fomento nas atividades do aeroporto são itens de uma movimentação que muda o paradigma do turismo no estado. Segundo avalia o mandatário da ABIH, existem hoje mais polos indutores de turismo para Pernambuco. São destinos que trabalham para atrair viajantes. Entre eles estão: Recife, Olinda, Jaboatão, Porto de Galinhas, Fernando de Noronha, Gravatá, Caruaru, Bezerros, Garanhuns e Petrolina, entre outras cidades com boa procura.

Essa conjunção de fatores anima os executivos do setor para os próximos anos. "Em linhas gerais, nossa expectativa para 2019 é repetir ou superar os resultados que conseguimos alcançar ao longo deste ano.Continuar numa marcha crescente", aponta o dirigente. Para que isso ocorra, no ano que vem a ideia é melhorar o trabalho de divulgação  fora do Brasil, sobretudo em destinos que tenham conexão direta com Pernambuco.

O case de Porto de Galinhas

Balneário de fama internacional e próximo a Recife, Porto de Galinhas puxa a fila do turismo de lazer pernambucano mas também oferece a opção para o turismo de eventos, com convenções realizadas ao longo de todo o ano. Com esse cenário positivo do aeroporto ser bastante movimentado, ter boas conexões com outros países, os empreendimentos de Porto de Galinhas são favorecidos.

Porto de GalinhasAs praias são as principais atrações de Porto de Galinhas​

A ocupação média da hotelaria do destino gira em torno de 80%, sendo 20% desse montante formado pelo público argentino – principal destino internacional emissor para a região. Outros sul-americanos também são habitués dos cerca de 6 mil quartos disponíveis nas adjacências.

"Estamos falando de um destino consolidado no mercado nacional que tem um excelente nome fora do Brasil. Ali temos uma oferta hoteleira que atende desde o mais exigente turista de luxo até aquele que procura ficar em uma opção com melhor custo-benefício", diz Maroja. "Tanto a diversidade como o engajamento com o mercado são resultados de um trabalho muito forte de divulgação com ações comerciais coordenadas", complementa.

De acordo com o presidente, nesse sentido, o balneário é um exemplo em ideias e divulgação do destino, inclusive com medidas renovadas. "Ano passado lançamos o Porto de Galinhas 360°, uma cúpula que projeta na tela uma visão geral das paisagens de Porto de Galinhas. Este ano, o cálculo total aponta para a realização de 70 famtours de capacitação para agentes de viagens e jornalistas".

Todo esse trabalho é desenvolvido por uma parceria entre AHPG (Associação de Hotéis de Porto de Galinhas) e Porto de Galinhas CVB (Convention e Visitours Bureau). As duas entidades desenvolvem trabalhos em prol do destino desde a década de 1980 e, além de propagar a qualidade do turismo criaram um ciclo de geração de emprego na região. "Trabalhamos com mão de obra do próprio município, capacitando essas pessoas de maneira contínua", revela. 

A aposta na força de trabalho local faz toda a diferença para o município de Ipojuca, onde está Porto de Galinhas. A cidade tem 80 mil habitantes; 25 mil atuando no segmento turístico e 15 mil em hotéis. Esses últimos, participam, periodicamente, de uma rotina de treinamentos organizados pelas associações hoteleiras. "Todos tem o programa de capacitação e fazemos muitas parcerias, sobretudo com o sistema Senac, Sebrae e Fecomércio".

O resultado do ciclo de capacitações, inclusive já começa a aparecer. "Percebemos uma melhoria considerável no padrão de serviço dos hotéis. Mas ainda temos muito o que fazer", avalia o representante da ABIH. E o desempenho profissional dos participantes não é o único resultado prático. Os treinamentos com trabalhadores geram, segundo acredita o gestor, impacto na sociedade local, que passa a entender e valorizar mais o turismo como atividade benéfica para a comunidade.

(*) Crédito da foto: Filip Calixto/Hotelier News

(**) Crédito da foto: ESDomingos/Pixabay

(***) Crédito da foto: Pedro Monval/Pixabay