domingo, 22/setembro
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O redesenho do design hoteleiro diante do novo normal

Já há certo tempo, boa cama, chuveiro quente e café da manhã saboroso não são suficientes para fisgar a clientela. Experiência passou a ser fator decisivo de compra e, dentro dela, o design hoteleiro ganhou papel decisivo. Contribui para isso a explosão das redes sociais e, claro, os cantos instagramáveis de cada empreendimento. Hoje, quando pensamos em arquitetura hoteleira, muitos conceitos vêm à mente, como disposição do mobiliário, projeto, texturas e formatos. Agora, com o novo normal e seus protocolos de distanciamento, como manter o charme?

Em matéria anterior, ainda no início da pandemia, abordamos os possíveis impactos do novo normal nos hotéis lifestyle. Quatro meses se passaram desde então e, no meio do caminho, empreendimentos iniciaram o movimento de reaberturas em massa. O último relatório do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), por exemplo, mostra que 12% das propriedades seguem fechadas no país. Com ambientes e operações ainda em fase de ajustes, a realidade pós-crise vem dando o tom de como serão os futuros projetos.

O assunto também foi tema de live transmitida pelo Hotelier News e Grupo R1, em julho. Nela, especialistas falaram sobre adaptações nos projetos e no design hoteleiro. Entre os convidados estava Angelo Derenze, diretor geral do Shopping D&D, que retorna nesta matéria para dar sua visão de mercado.


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“Mesmo antes da pandemia, os espaços já estavam se tornando multifuncionais. A crise só acelerou essa tendência. Novos projetos já nascerão adaptados e os existentes sofrerão mudanças, principalmente na disposição. Por exemplo: sofás no lobby serão substituídos por poltronas individuais, buscando manter o distanciamento necessário”, enfatiza.

Por coincidência, o mesmo exemplo foi citado por Silvia Galiotto, proprietária da Help Hotéis, consultoria especializada em projetos de hotelaria. “Os espaços serão divididos e o design vai incentivar o distanciamento, como a saída de sofás do lobby”, explica. “Entretanto, acredito que o uso da tecnologia será um dos fatores de maior impacto”, complementa.

design hoteleiro- angelo derenze
Derenze: mesmo antes da pandemia, os espaços já estavam se tornando multifuncionais

Design hoteleiro: inovação como item decorativo

Segundo Silvia, arquitetos e designers precisam se familiarizar com as novas tecnologias adotadas pela hotelaria antes de desenvolver projetos. “Houve grande apego aos materiais, o que combina com o que, mas esquecemos desses detalhes. As opções estão surgindo e precisamos entender como essas tecnologias funcionam e como são empregadas. Saber onde ela se conecta, para onde vai o cabeamento, tudo isso precisa estar no projeto de interiores. É um aprendizado muito grande”, avalia.

É sabido que o uso de soluções inovadoras não é exclusividade da hotelaria de luxo. É no segmento, sobretudo devido ao budget, que será mais presente a tecnologia. E tudo sem perder o conforto esperado pelos hóspedes mais exigentes, é claro! “Esses hotéis migrarão cada vez mais para automatização, com o uso de robôs, check-in via mobile, acesso aos serviços pelo app, entre outras coisas. No entanto, o design em si não deve se alterar muito, pois precisa lembrar a casa do cliente, só com mais sofisticação”, afirma Silvia.

Para Derenze, em hotéis upscale segurança é a palavra-chave. “No Brasil, empreendimentos de alto padrão ainda são a minoria e acredito que, depois da pandemia, haverá lançamentos para esse segmento”, avalia.

design hoteleiro - silvia galiotto
Silvia: existem pessoas por trás daqueles ambientes e são elas que fazem a diferença

Redesenhando espaços e protocolos

Que protocolos de higiene foram implementados todos sabemos, entretanto, o design hoteleiro pode facilitar os processos. Muitos empreendimentos retiraram itens de áreas comuns e apartamentos para reduzir pontos de contato e o tempo de limpeza. “Acredito que decoração clean é uma tendência que veio para ficar. Excessos de objetos soltos e papelaria não são funcionais. Dá para trabalhar ambientes retirando o que não precisa sem perder o conceito do hotel”, explica Silvia.

Apostar em materiais de fácil limpeza já era tendência no setor hoteleiro e, agora, foi consolidada. “Menos tecido e mais couro ecológico e outros materiais estavam entre as prioridades dos hoteleiros. Em empreendimentos de menor budget é uma saída”, comenta a profissional.

Espaços abertos e mais verde também despontam como top trends dos projetos. “Como estamos trancados dentro de casa, mais natureza vem sido inserida nos ambientes. Abrir o restaurante para o jardim e criar espaços agradáveis está sendo um desafio gostoso para os arquitetos. Novos ambientes que não seguem uma fórmula pronta estão sendo repensados”.

Retrofit em alta

Nos últimos meses, muitos hotéis aproveitaram o período de paralisação das atividades para promover reformas como chamariz para a reabertura. Para Silvia, essas têm sido as principais demandas do setor e as que devem ser levadas em consideração no momento. “Os empreendimentos precisam se destacar no mercado e os clientes têm que captar isso. Acredito que esse movimento de renovação seja importante de fato”.

Segundo a arquiteta, hotéis de médio e pequeno porte ou independentes tendem a fazer reformas pontuais e necessárias. Já grandes empreendimentos ou hotéis de marca promovem retrofits em maior escala, muitas vezes assinados por designers e marcas renomadas. “Hotéis pequenos são mais práticos e objetivos, resolvem o que precisa ser feito. Os de marca muitas vezes realizam obras em andares inteiros. São reformas massivas”, comenta Silvia.

Mesmo com tantas mudanças, a profissional destaca que design nenhum substitui calor humano dos funcionários e segurança dos protocolos. “É importante ver o sorriso dos colaboradores, mesmo que distante. Existem pessoas por trás daqueles ambientes e são elas que fazem a diferença”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Peter Kutuchian/Hotelier News

(**) Crédito das fotos: Divulgação