Novamente impulsionado pelo setor de serviços, o PIB (Produto Interno Bruto) brasileiro registra a quarta alta consecutiva no segundo trimestre, revela a Folha de São Paulo. Segundo os dados divulgados hoje (1º) pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o indicador cresceu 1,2% frente aos três meses imediatamente anteriores, período no qual também se verificou crescimento econômico de 1%. Em relação ao mesmo trimestre de 2021, a economia subiu 3,2%.

Com o resultado de ambos os trimestres, é possível avaliar o PIB de todo o primeiro semestre, que avançou 2,5%, segundo o IBGE. A comparação com períodos em que a pandemia se encontrava no auge costuma não ser tão pertinente, contudo, a atividade econômica do país ficou 3% acima do último trimestre de 2019. Além disso, o resultado quase bateu recorde da série histórica, ficando atrás apenas do primeiro trimestre de 2014, faltando apenas 0,3%.

Impulso dos serviços

É evidente que o resultado reflete os efeitos da reabertura das atividades após as restrições da pandemia. De acordo com o IBGE, o aumento da circulação de pessoas e o retorno aos negócios presenciais, estimularam a prestação de serviços, setor determinante para o resultado do PIB. Durante o primeiro trimestre, o setor registrou alta de 1,3%.

Segundo Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, os serviços estão pesando 70% na economia, impactando em maior grau o resultado. “Outras atividades de serviços (3,3%), transportes (3,0%) e informação e comunicação (2,9%) avançaram e puxaram essa alta”, afirma em nota. “Em outras atividades de serviços, estão os serviços presenciais, que estavam represados durante a pandemia, como os restaurantes e hotéis, por exemplo”, completa.

Já na indústria, o crescimento foi de 2,2%, a taxa mais alta desde o terceiro trimestre de 2020 (14,7%), quando o setor se esforçava para se reerguer da pandemia e apresentava uma base de comparação depreciada. A agropecuária, que havia recuado 0,9% no primeiro trimestre, subiu 0,5% no segundo.

Medidas de incentivo e perspectivas

Às vésperas das eleições e sob pressão da alta inflacionária, o governo Jair Bolsonaro (PL) apostou na liberação de recursos para tentar atenuar a perda do poder de compra da população. Com a autorização de saques de contas do FGTS, antecipação do 13º de aposentados e ampliação de benefícios sociais, como o Auxílio Brasil, já é possível sentir os efeitos dessas medidas e elaborar previsões para os próximos meses.

Durante o primeiro trimestre, o consumo das famílias cresceu 2,6%, a maior alta desde o quarto trimestre de 2020 (3,1%). Enquanto isso, o consumo do governo recuou 0,9%, após registrar estabilidade no trimestre anterior (-0,1%). Os investimentos na economia, medidos pelo indicador de FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), cresceram 4,8%.

Recentemente, o mercado financeiro elevou as expectativas para o PIB acumulado de 2022. A última previsão é de crescimento de 2,1%, conforme a mediana do boletim semanal Focus, divulgado pelo BC (Banco Central). Já no cenário de disputa eleitoral, se espera impacto maior sobre a economia de cortes de tributos e dos efeitos da ampliação de benefícios sociais para o próximo trimestre.

Embora tenha dado breve folga em agosto, a inflação segue encarecendo o preço dos alimentos, impactando a população mais pobre. Além disso, a elevação da Selic, atualmente em 13,75%, e os sinais de perda de fôlego da economia global também são sinais de preocupação para recuperação do consumo. Não é à toa que o mercado financeiro está um tanto menos otimista para o PIB de 2023, esperando crescimento tímido de 0,37%, segundo o boletim Focus.

(*) Crédito da foto: Eduardo Anizelli/Folhapress