O entrevistado de hoje (15) do Três perguntas para já é conhecido da editoria, na qual fez sua primeira participação em 2022. Guilherme Dietze, economista e presidente do Conselho de Turismo da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), se autodenomina “carixaba”: carioca de nascimento e capixaba de coração, já que foi criado no Espírito Santo.

Há mais de 15 anos, mora em São Paulo. Pai do pequeno Dante, de 2 anos, tem como hobbies qualquer esporte com raquete, além de apreciar viagens em família e aviação. Dietze é formado em Economia pela Universidade de Vila Velha e especialista em Pesquisa de Mercado pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas).

Entrou para o time da FecomercioSP em 2008 como assessor econômico, atuando nas análises de pesquisas de vendas do Comércio e de confiança e inadimplência do consumidor. Em 2017, passou a assessorar o Conselho de Turismo da entidade, presidido à época por Mariana Aldrigui. Ao longo desse período, ajudou a criar indicadores econômicos para o setor. No início deste ano, assumiu a presidência do Conselho, após a saída de Mariana.

No bate-papo de hoje, Dietze fala ao Hotelier News sobre perspectivas para o turismo, entre outros pontos importantes. Confira!

Três perguntas para: Guilherme Dietze

Hotelier News: Entramos no segundo semestre de 2024 e, na hotelaria e turismo, é momento de visualizar o que vem pela frente, sobretudo para o próximo ano. Dessa forma, como o cenário macroeconômico irá afetar esses dois setores em 2025? O que podemos esperar?

Guilherme Dietze: Há uma correlação importante entre o turismo e o desempenho da economia, em especial do PIB (Produto Interno Bruto). Naturalmente, as pessoas sempre associam, de imediato, o setor com os destinos de praia, como Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza. No entanto, o turismo corporativo é o mais relevante, numa média geral, para as atividades da área, sobretudo a aérea e a hoteleira. De acordo com cálculos da FecomercioSP, o corporativo participa com pouco mais de 60% do faturamento do turismo em geral.

Assim, como a tendência da economia é registrar crescimento em torno de 2% a 3% neste e no próximo ano (de uma forma homogênea) na Indústria, nos Serviços e no Comércio, o turismo se beneficia, pois são empresas que seguem investindo em participações em feiras e eventos, visitas aos clientes, deslocamentos entre filiais, montagens de operações, entre tantos outros motivos.

Pelo lado do consumidor, há um ambiente muito mais propício para pensar em viajar. Além da busca maior por experiências — as quais as viagens podem proporcionar —, o mercado de trabalho está se aquecendo, ao passo que temos um cenário de inflação relativamente baixa e juros em queda, potencializando o poder de compra.

Vale ressaltar que, no Brasil, há um benefício gigantesco que é o parcelamento “sem juros”, e embora os preços dos serviços do turismo estejam mais caros, a forma de pagamento fracionada ajuda a não impactar tanto o orçamento e mantém o estímulo ao gasto com viagens.

Portanto, a tendência é muito favorável para o turismo nacional, mesmo sabendo que há inúmeros desafios a serem enfrentados.

HN: Neste ano, o dólar atingiu seu maior patamar em dois anos e meio, podendo, segundo apontado pela própria FecomercioSP, afetar o turismo doméstico e as viagens corporativas, devido aos custos das companhias aéreas, relacionados à moeda. Dessa forma, como você avalia os possíveis impactos deste cenário no setor hoteleiro?

GD: O impacto sobre o setor hoteleiro deve se dar de maneira indireta. Não há custos atrelados ao dólar como na aviação, por isso, o efeito da desvalorização do real acaba sendo menor. Contudo, com as passagens mais caras, é natural que se busque mudar o perfil das viagens, como um período de estada menor, um downgrade de quarto e uma negociação de tarifa.

Há um outro olhar que pode ser favorável a alguns segmentos da hotelaria. Dado o dólar mais alto, pode haver também limitações de viagens ao exterior e do uso do aéreo no doméstico, levando as famílias a viajar com veículo próprio ou locado para destinos de proximidade, contribuindo para o faturamento dos meios de hospedagens mais próximos dos grandes centros.

No Início do ano, o dólar estava cotado a R$5, com disparada recente chegando a oscilar próximo dos R$5,80. Agora, cede um pouco e retorna ao nível de R$5,40, ajudando a pressionar menos os custos da aviação e, por consequência, os preços das passagens. Mas há muitas incertezas no mercado, desde conflitos internacionais até a questão da taxa de juros nos Estados Unidos e a desconfiança sobre o governo brasileiro em equilibrar as contas. Assim, há uma tendência muito maior de o dólar continuar no patamar similar ao de hoje.

HN: Falando de desenvolvimento hoteleiro e indicadores econômicos, qual cenário você visualiza para os próximos anos, considerando que índices como a taxa básica de juros influenciam diretamente na concepção de novos empreendimentos?

GD: Apesar de a taxa de juros no Brasil permanecer nos dois dígitos, houve uma redução importante — de 13,75% ao ano, para os atuais 10,5% —, estimulando gradativamente o investimento produtivo, e a hotelaria está inserida nesse processo. Até porque, atualmente, existe uma demanda forte e crescente em várias regiões do País, além da oportunidade de aumento da oferta, como é o caso de Brasília.

Essa forte procura tem propiciado um aumento do RevPAR [indicador que revela quanto de receita cada quarto de hotel, ocupado ou não, gera em um certo período de tempo] em diversas regiões do Brasil (acima de 10% na maioria), trazendo otimismo para o segmento e os investimentos.

Por outro lado, há desafios como os efeitos da Reforma Tributária e a dificuldade de encontrar mão de obra. Mesmo assim, a redução dos juros e o mercado de Turismo aquecido (situação que deve continuar pelos próximos anos) dão as condições para que se ampliem os investimentos e se pressionem menos os preços na relação entre demanda e oferta, contribuindo para o planejamento das empresas e das famílias.

(*) Crédito da foto: Divulgação/FecomercioSP