O momento é de transformações na hotelaria e, talvez, uma das mais sensíveis seja na gestão de pessoas. Novas habilidades estão sendo exigidas de gestores e comandados e, nas organizações, há grandes redes que miram mudanças profundas. Conversamos hoje (3) com Valéria Leal, sócia da VLealRH e que atua desde 1994 com Recursos Humanos, para repercutir essas mudanças.

“A estratégia de gestão neste mercado foi afetada de forma tão sensível pela pandemia que teve que ser revisitada e reavaliada pelos gestores”, analisa Valéria. “Ter um departamento de Recursos Humanos e gestores que, juntos, definam e desenhem essa nova estratégia será muito importante para definir o perfil destes profissionais e a adaptação com aqueles que ainda continuaram nas organizações”, completa.

Envolvida na área de Gestão de pessoas desde 1994, Valéria é casada com um hoteleiro e é mão de Pedro, de seis anos. “Em casa, estou sempre em contato constante com meu filho, o que me exige me reinventar todo dia para acompanhar suas demandas, questionamentos e dúvidas. Nossos momentos em casa são maratonando séries em vários estilos e, quando viajamos, somos desbravadores de novas experiências e de repetir aquelas que nos trazem boas lembranças”, comenta.

Três perguntas para: Valéria Leal

Hotelier News: Boa parte dos hotéis já reabriram e o mercado de trabalho vai reaquecendo. Pelo que você tem visto, onde está o maior volume de vagas em termos de área/departamento? Há muita demanda para cargos de liderança?

Valéria Leal: Hoje em dia, temos boa parte da hotelaria no Brasil reabrindo seus negócios e, com isso, o mercado de trabalho está voltando a contratar. Como consultora de RH e neste mercado há 15 anos, o foco da contratação mudou muito. Com o fechamento dos hotéis e as Medidas Provisórias oferecidas pelo governo e os acordos sindicais realizados pela hotelaria, temos hoje uma massa de funcionários em todas as funções disponíveis para contratação. O maior volume de vagas tem sido nas áreas operacionais diretas nos departamentos de Governança e Recepção, além de A&B (Alimentos & Bebidas).

HN: Diante da baixa demanda do mercado, que habilidades e competências os gestores estão buscando nos profissionais?

VL: Tenho observado que a procura e definição de gestores estão sendo revisados. O conhecimento técnico, formação e experiência na área ainda são fatores determinantes no recrutamento, mas as avaliações e seleção de gestores multidisciplinares e multifuncionais passam a ser essenciais no momento da retomada. Quem na carreira se preparou em conhecer o negócio hotelaria como um todo agregará mais informação ao se postular a uma posição. No momento em que os hotéis estavam fechados para o atendimento ao cliente, a maioria deles manteve um comitê de crise para entender e aplicar todas as questões legais. Tivemos muitos gerentes gerais e operacionais e de Recursos Humanos que também foram demitidos. Com a reabertura, os gestores e proprietários foram em busca – e ainda continuam precisando – de profissionais que mobilizam seus conhecimentos e aprendizados para solucionar problemas e ultrapassar os desafios. Essa é a principal definição das competências para executar uma função atualmente. Associado a isso, vamos validar as habilidades necessárias de acordo com a cultura, valores e planejamento estratégico do empreendimento em sua retomada. Essas habilidades são o que transformam conhecimentos em ações para chegar a um determinado objetivo.

HN: Pensando na estratégia de gestão de pessoas, qual o dever de casa para as organizações diante desse novo cenário?

VL: A estratégia de gestão neste mercado foi afetada de forma tão sensível pela pandemia que teve que ser revisitada e reavaliada pelos gestores. Na reabertura, as organizações tiveram e têm que fazer uma análise profunda nos seus pilares. Hoje, temos muitos profissionais disponíveis com competências e habilidades diversas. De certa forma, isso pode dar uma falsa sensação de que o mercado tem muitos hoteleiros em busca de oportunidades com fácil negociação de contratação. Saber o que se quer e conversar com o candidato sobre esta expectativa será a base para uma contratação mais assertiva. Ter um departamento de Recursos Humanos e gestores que, juntos, definam e desenhem essa nova estratégia será muito importante para definir o perfil destes profissionais e a adaptação com aqueles que ainda continuaram nas organizações. Tenho sido muito procurada para refazer as políticas de contratação, inserindo na estratégia das empresas a multifuncionalidade nas funções operacionais e a gestão multidisciplinar para os responsáveis por departamentos ou núcleos de negócios.

(*) Crédito da foto: Divulgação/VLeal RH Consultoria