Na última semana, o estado do Amazonas foi destaque nas notícias devido à cadeia de eventos que deixou hospitais sem aporte e levou muitos pacientes de Covid-19 a óbito por falta de oxigênio. Sem respirar, a capital comoveu o país inteiro, levando grupos a se movimentarem para ajudar. A própria ABIH-Nacional (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis) promoveu uma campanha para enviar EPI’s (Equipamentos de Proteção Individual) para a região.

É neste cenário que aterrissa o Hotelier News, que segue pelo Brasil cobrindo a retomada da hotelaria. Antes da chegada da segunda onda, o estado vinha em uma crescente na ocupação. “De uma forma geral, vínhamos de um último trimestre de franca recuperação, boa taxa de ocupação, principalmente nos hotéis de natureza devido aos cruzeiros fluviais que tinham voltado a operar”, contextualiza Augusto Costa Filho sócio-diretor dos hotéis Anavilhanas Jungle Lodge e Villa Amazônia.

Os dois hotéis, um de floresta e outro localizado em Manaus, vivem momentos diferentes. O sócio-diretor explica que existe uma disparidade enorme da demanda. “O Anavilhanas chegou a um ponto de ocupação maior no último trimestre de 2020 comparado a 2019”, pontua.

O empreendimento vinha de um ano promissor. “Talvez até com melhor ocupação e resultado do que em 2019, isso até meados de março. Então, os cancelamentos começaram a aumentar até que no dia 18 de março já não havia mais nenhuma reserva para entrar. Fechamos no dia 24 e reabrimos na última semana de julho”, comenta.

Aos poucos, o hotel situado a 180 quilômetros da capital retornou a operação trabalhando com uma capacidade máxima de 60%. “Setembro foi um mês de melhoria, mas ainda assim abaixo de 2019. Já os últimos três meses foram melhores que o ano anterior”, diz o sócio-diretor.

Já o Villa Amazônia vive uma retomada mais difícil, refletindo o movimento desacelerado que as capitais brasileiras vêm enfrentando. “Estamos falando que houve uma queda trimestral de mais de 50% em termos de ocupação e faturamento. No hotel da capital, víamos um crescimento constante, só que mais lento”, explica Costa Filho.

amazonas - guto costa filho

Costa Filho: Anavilhanas e Villa Amazônia vivem momentos diferentes na retomada

Amazonas, o negacionismo e a segunda onda

Situação similar a dos empreendimentos Juma Ópera e Juma Lodge, situados em Manaus e em Autazes, respectivamente. “Fechamos de março a julho e tivemos 25% de ocupação em ambos”, compartilha Caio Fonseca, diretor dos Hotéis Juma.

Operando com capacidade máxima de 50% nas duas unidades, a rede projeta retomar os números pré-covid só em 2022. “Começamos a nos recuperar em outubro, mas no final de dezembro piorou tudo de novo”, explica o diretor.

O cenário de caos e incertezas influenciou no receio dos hóspedes, desencadeando em uma nova queda na ocupação. “Continuamos contando com voos diários, mas temos muitos cancelamentos, pois os turistas estão com medo de viajar para Manaus”, argumenta Fonseca.

Consequência do que o presidente da câmara dos deputados, Rodrigo Maia, classificou como “total ausência de contenção por parte das autoridades sanitárias” e parte de “uma cegueira e negacionismo criminosos”, a segunda onda apresenta características diferentes na região.

Segundo Costa Filho, houve uma mudança em relação ao ano passado, quando o coronavírus explodiu no país. “Antes, quando a pandemia estourou, acabaram as reservas. Não existia uma alma querendo se hospedar. Este ano, não sei se porque a crise está concentrada no Amazonas sem nenhum decreto de lockdown do estado de São Paulo, que é o nosso principal emissor de cliente, a sensação que temos é que existe hoje um público disposto a manter seus planos de viagens mesmo com a situação caótica”, reflete.

amazonas - Caio fonseca

Fonseca: empreendimentos observaram mudanças de público

O público da retomada

Dadas as restrições nas fronteiras e um receio geral desencadeado pela pandemia, o brasileiro volta a conhecer o país e no Amazonas a situação não foi diferente. “Tivemos uma mudança no perfil dos hóspedes: antes eram estrangeiros na maioria, agora são brasileiros, principalmente os próprios manauaras que não estão viajando”, divide Fonseca.

O mesmo aconteceu no Anavilhanas, que hoje recebe quase 100% de hóspedes nacionais. “Historicamente, temos 60% de público estrangeiro e 40% de público doméstico, que cresceu ao longo dos nossos 14 anos de operação. Hoje, operamos praticamente com apenas turistas brasileiros, alguns estrangeiros, mas que moram no Brasil”, comenta o sócio-diretor.

Quanto ao perfil do público, Costa Filho diz que este se manteve. “Muitas famílias com crianças, casais em lua de mel ou hóspedes mais velhos, que é o padrão do nosso público nacional. Percebemos os clientes mais exigentes, que estão ficando mais tempo do que a média anterior e estão querendo fazer valer esse período de férias, dando preferência para quartos melhores, por exemplo”, finaliza.

(*) Crédito da capa: Biron/Pixabay

(**) Crédito da foto Guto: Divulgação

(***) Crédito da foto Caio: Peter Kutuchian/Hotelier News