A última edição da Abav Expo, em São Paulo, estava a pleno vapor quando veio a notícia. A CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) acabara de eleger novo presidente. Empresário amazonense com negócios na hotelaria, José Roberto Tadros foi escolhido para comandar a entidade até novembro de 2022. E por ampla maioria: 24 votos contra quatro.

O executivo tomou posse no cargo em 18 de novembro, com uma cerimônia na sede da confederação, em Brasília. Na ocasião, em seu discurso de posse, reafirmou que a CNC seguirá ampliando sua atuação, participando ativamente do desenvolvimento do Brasil. Ele disse também que é preciso garantir mais segurança jurídica e liberdade para o empreendedor.

Nascido em Manaus, Tadros é graduado em Direito pela Universidade do Amazonas. Ex-presidente da Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas), atua como empresário desde 1974. Além das suas atividades comerciais e sindicais, é autor e coautor de diversos livros, sendo ainda membro da AAL (Academia Amazonense de Letras).

José Roberto Tadros - foto da posseTadros (segundo da esquerda para a direita) durante a posse

José Roberto Tadros: prioridades

Neste bate-papo com a reportagem do Hotelier News, Tadros destacou os principais objetivos de sua gestão. Falou ainda sobre os primeiros contatos da entidade com o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL-RJ) e mencionou as principais pautas que defenderá perante o novo governo.

“Estamos diante de um governo eleito que está preocupado em fazer com que os recursos destinados aos projetos de transformação da sociedade alcancem quem mais necessita. E nisso seremos parceiros para juntos construir um Brasil mais ético e mais conectado com as demandas da sociedade”, destaca Tadros.

Reconhecendo que o potencial do turismo brasileiro não é explorado a contento, o novo presidente da CNC colocou-se à disposição para atuar em prol do setor. “Vamos trabalhar e focar essa gestão com toda a força para contribuir com as soluções”, assegura. Confira a entrevista completa abaixo. Boa leitura!

Hotelier News: Quais os principais objetivos da nova gestão? O que é prioritário?
José Roberto Tadros:
Em relação às nossas metas para a CNC, pretendo dar sequência ao projeto de modernização institucional, permitindo consolidar os avanços conquistados pela confederação, ampliar sua força, relevância e a defesa pertinaz dos interesses dos empresários do comércio de bens, serviços e turismo. A CNC vai buscar caminhos de diálogo construtivo com o novo governo e a sociedade, sempre em defesa do setor terciário e do Brasil. Vamos também seguir fortalecendo a presença do Sesc e do Senac, instituições que estão historicamente associadas a tantos benefícios para a sociedade brasileira e com forte atuação também no turismo.

HN: Já houve algum tipo de contato com a nova gestão no Planalto?
JRT:
Queremos uma boa interlocução com o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro para podermos contribuir com a adoção de políticas públicas que ajudem o Brasil a retomar o crescimento sustentável. Já estamos trabalhando para isso. E, nesse caminho, defendemos a necessidade da realização de reformas que consideramos inadiáveis. Mais especificamente na área do Turismo, Alexandre Sampaio, presidente do Cetur (Conselho Empresarial de Turismo e Hospitalidade), esteve com o então candidato e agora presidente eleito, quando apresentou propostas para o turismo a partir de 2019. Antes disso, em agosto, Jair Bolsonaro recebeu um documento elaboradas pelas 25 entidades da cadeia produtiva do setor reunidas no Cetur. Não menos importante, o presidente Michel Temer participou da apresentação da nova diretoria da CNC, em um evento que reuniu empresários, lideranças sindicais, parlamentares e outras autoridades, no dia 28 de novembro, em Brasília. Na oportunidade, reafirmamos nosso compromisso com os segmentos representados pela CNC, com o desenvolvimento do país e com as reformas necessárias para garantir segurança jurídica e estímulo ao empreendedorismo.

HN: Como foi a recepção para as pautas da CNC?
JRT:
O presidente Jair Bolsonaro recebeu as propostas e está ciente do potencial que o Brasil tem para desenvolver o turismo. Ele externou sua preocupação pelo fato de o país receber poucos turistas em relação a outros destinos mundiais e também está ciente dos gargalos existentes. Estamos diante de um governo eleito que está preocupado em fazer com que os recursos destinados aos projetos de transformação da sociedade alcancem quem mais necessita. E nisso seremos parceiros para juntos construir um Brasil mais ético e mais conectado com as demandas da sociedade. A CNC sempre trabalhará para dias melhores para o nosso país, mas deixando sempre patente que o fundamental é que tenhamos democracia e respeito às bases do sistema capitalista. É preciso garantir que o País tenha segurança jurídica e liberdade para empreender.

José Roberto Tadros - certificado de posseTadros reconhece potencial inexplorado do turismo

HN: O setor de comércio e serviços é a mola propulsora do PIB. Ainda assim, existem gargalos que impedem um desenvolvimento mais forte. Quais os mais relevantes? Como combatê-los?
JRT:
É necessário descomplicar o Estado. A democracia não é só a liberdade de votar e exprimir os seus sentimentos e visões políticas. Democracia quer dizer autonomia para empreender, para lucrar, criar e transformar o lucro em novos investimentos com estabilidade. No Brasil, não há segurança jurídica e isso rechaça o capital, faz com que o empresário perca todo ânimo e a criatividade para investir. Por outro lado, o grande mote da atividade econômica, no capitalismo, é o lucro, que não deve ser visto como um pecado. As pessoas que têm competência para gerar lucro não devem ser vistas como execráveis. Pelo contrário, precisam ser estimuladas a empreender. Outro gargalo é a carga tributária abusiva nos três níveis, que captura o lucro e transforma o empresário em refém de dívidas permanentes. Queremos uma economia livre e as reformas tributária, da Previdência e da estrutura do Estado.

HN: Especificamente em relação ao turismo, quais os principais objetivos da gestão?
JRT:
Para termos uma ideia da importância do turismo, basta dizer que, em grande parte do mundo, fundamentalmente na Europa, o segmento é uma atividade econômica essencial. No caso da França, por exemplo, o setor representa mais de 9% do PIB. Na Espanha foi quase 15% no ano passado. No Brasil, recebemos relativamente menos turistas que o Uruguai, um país com 3,5 milhões de habitantes. O Uruguai recebeu 3,9 milhões de visitantes internacionais em 2017, enquanto o Brasil, que tem uma população de 209 milhões de pessoas, teve 6,5 milhões. O Brasil ainda perdeu a liderança da América do Sul para a vizinha Argentina, que alcançou 6,7 milhões de turistas estrangeiros. A falta de interesse do Estado na criação de políticas profissionais voltadas ao crescimento da atividade, na minha avaliação, é o principal fator para termos um turismo tão inferior ao nosso potencial. Paralelamente, existe a alta incidência de tributos que torna o destino caro. Outra questão preponderante é a falta de segurança. Turista quer fazer turismo e não correr o risco de perder a vida. Enquanto não resolvermos esses pontos de constrição, não podemos nos tornar potência turística, mesmo com nossa diversidade de atrativos turísticos. Vamos trabalhar e focar essa gestão com toda a força para contribuir com as soluções. Precisamos ajudar os empresários a trazer divisas para que nossa balança de turismo seja absolutamente favorável.

HN: Na sua avaliação, com a gradual retomada da economia, o que podemos projetar para 2019?
JRT:
A atual crise que o Brasil atravessa é de crescimento e de desemprego, motivada pela falta de novos investimentos, que, por sua vez, não ocorrem devido à crise fiscal. Nesse sentido, o caminho das reformas é incontornável, como citei antes. E um bom exemplo dos benefícios que podem ser alcançados por toda a sociedade é a modernização da legislação Trabalhista, que completou um ano desde a sua promulgação. Estudo recente divulgado pela CNC revela que a reforma, instituída pela Lei nº 13.467/2017, possibilitou ganhos salariais para os trabalhadores do comércio, desafogou a Justiça de processos e não tornou precários os contratos de trabalho em decurso. São as reformas que darão sustentabilidade para que a retomada do crescimento já iniciada se dê de forma consistente ao longo de 2019.

(*) Crédito das fotos: Christina Bocayuva