*De Olinda (PE)
Por Marília Gilka, especialmente para o Hotelier News
FHAN: terceiro painel comenta sobre desafios para 2026
Para finalizar a programação do primeiro dia de palestras do FHAN, o tema debatido foi Tendências e desafios para 2026 – resultados da pesquisa Hotel Trends Orçamentos, com participação de Paulo Salvador, sócio da Noctua Advisory, e mediação de Vinicius Medeiros, editor-chefe do Hotelier News.
Para iniciar, Salvador abordou o processo de elaboração dos orçamentos. “Destaque para a lógica clássica de satisfação dos clientes; levantamento prévio dos principais eventos, novos investimentos e acontecimentos do destino; análise de forças, fraquezas, oportunidades e ameaças; distribuição por canal; análise de informações sobre os concorrentes e elaboração prévia do plano de Marketing”, afirmou.
O especialista defendeu que hotéis com asset manager atuante contribuem para melhores resultados. “Desmistificando o termo, é um olho de um expert afastado do dia a dia das operações e dos grandes indicadores de proprietários”, esclareceu. “A maioria dos hotéis não tem um asset manager e há gaps de melhorias na metodologia de elaboração dos orçamentos”, completou.
De acordo com Salvador, 2025 está melhor em relação ao ano passado em diária média e receita. “Este ano já é um dos melhores desde antes da pandemia”, contou. “Os hotéis que crescem mais de 15% em RevPar se destacam em A&B de qualidade; estrutura de lazer compatível com o perfil do hóspede; eficiência em processos operacionais; efetividade em investimentos em Marketing; adequação do volume de receitas auxiliares; efetividade das práticas de RM; cultura de resultados disseminada entre a equipe; e condições de quarto para um sono com qualidade”, continuou.
Ainda segundo Salvador, os hotéis que mais crescem no Brasil têm hóspedes satisfeitos, pontuando que ativos reformados fazem o básico bem-feito. Para 2026, as perspectivas de crescer dois dígitos são menores. “O crescimento virá majoritariamente da diária média e menos da ocupação”, declarou.
Para combater a baixa expectativa, o especialista aconselhou que os hotéis olhem para dentro de casa. “É preciso seguir investindo em melhorias internas para depender menos da economia em 2026. Empreendimentos que investirem assertivamente em reforma, RM e Marketing podem crescer acima de 15% em receita”, acrescentou.
Hotéis e resorts têm, em média, 20% de custo de aquisição, segundo o executivo. Esse percentual aumentou 35% entre 2022 e 2025, segundo pesquisa Adobe/Publicis.
Boas práticas
Durante a palestra, Medeiros elencou boas práticas para que os empreendimentos aumentem a eficiência em vendas no próximo ano. “Não tenha medo de criar indicadores sobre a receita. E as equipes precisam pensar de forma integrada. Os times de Vendas, Marketing e RM devem trabalhar em sinergia”, reforçou. A plataforma de receitas permite criar indicadores sobre a receita, planejar os gastos de Vendas e Marketing, impulsionar a rentabilidade, elevar o RevPar e utilizar recursos de IA.
Para finalizar, Salvador comentou os impactos operacionais do uso da IA na hotelaria, que pode ser utilizada para benefício do setor. “Entre os benefícios, estão a alocação de quartos conforme histórico do hóspede, manutenção preventiva para prever e planejar reparos, otimização da governança e engenharia de menus e compras”, concluiu.
Segunda palestra do FHAN aborda custos e despesas
Dando continuidade à programação de palestras do FHAN (Fórum de Hospedagem e Alimentação do Nordeste), o painel Não só das vendas vem o resultado: a importância do tracking dos custos e despesas contou com a participação de André Victória, sócio da Hospitalitá Consulting; Guido Stütz, gerente geral The Westin Porto de Galinhas; e Augusto Ferreira, gerente geral do Hotel Atlante Plaza.
Victória iniciou os trabalhos falando sobre as práticas de contabilidade gerencial. “Estratégia é um plano que se define para chegar a um objetivo e, na hotelaria, vamos ajustando à medida que se vai atuando. E o orçamento é o nosso mapa, de onde se define como chegar à vitória”, afirmou.
Stütz, por sua vez, falou sobre o desafio no dia a dia da hotelaria de transformar informações e dados em atitudes. “A base e os números são essenciais no planejamento. É preciso analisar o que fazemos e como, para servir de referência e evidências do que foi feito em cada um dos setores do hotel, para assim projetar um orçamento e refazer os processos ajustando o que for necessário”, declarou.
Já Ferreira endossou que receita e custo precisam de acompanhamento diário. “Monitorar os dados e empoderar os líderes de setores é essencial para entender o negócio e saber para onde vai. Assim, entendemos os gaps e oportunidades”, afirmou. “Em cenários de baixa ocupação há uma dificuldade de receita, mas uma oportunidade de reduzir custos. Se você não tem previsibilidade, não tem como saber como atuar em termos de contratação de pessoal, redução de despesas e outros aspectos”, completou.
Retomando o raciocínio, Stütz comentou que é preciso saber o que está acontecendo no mercado para sobreviver nos momentos mais difíceis. “Um hotel tem um staff para atender até 80% de ocupação. A partir de 80%, aumenta a receita, mas é preciso ter cuidado para não estourar os gastos”, aconselhou.
Ferreira reforçou a importância do RM (Revenue Management) de projeção. “Temos reunião com projeção de 60, 90 dias, e isso serve de base para uma série de questões, como custo de oportunidade, organização de férias, contratação de pessoal e compras”, relatou.
Principais considerações
Segundo Victória, o momento de gestão dos custos é uma oportunidade de engajamento da equipe. “A meta é realizada por todos. Por isso, a importância de compartilhar com as equipes os números”, acrescentou Ferreira, complementando o pensamento do executivo da Hospitalitá.
“O departamento Comercial, por exemplo, precisa entender os custos por apartamento para saber até onde pode ir nos descontos da tarifa”, reforçou Stütz.
Victória fez uma provocação sobre os desafios relacionados às despesas de pessoal e à dificuldade de contratação de mão de obra. Sobre isso, Stütz pontuou que o empecilho de encontrar talentos é uma tendência global na hotelaria. “Sempre foi uma indústria muito desafiadora, especialmente para os jovens. Estamos longe do cenário ideal, mas é possível alinhar expectativas com os candidatos”, avaliou.
Já sobre os desafios entre salários pouco atrativos e jornada de trabalho árdua, Ferreira relatou que é preciso se adaptar à nova realidade pós-pandemia e tornar o negócio atrativo para os futuros colaboradores. Além disso, segundo ele, ter uma boa política de cargos e salários é importante. “O maior ativo de entrega de resultados na hotelaria hoje é a equipe”, defendeu.
Outro tema comentado durante o segundo painel do FHAN foi a importância da manutenção preventiva para evitar custos. “Aproveite a baixa temporada para fazer manutenção de cada quarto e equipamento. Se você não tem orçamento para isso, ao final, fica muito mais caro”, declarou Stütz. “É preciso fazer as contas. Quando você olha para o valor do custo de uma manutenção de ar-condicionado, estendendo a durabilidade dele, e compara com o custo de um aparelho quebrado, em que o apartamento não pode ser usado pelo hóspede, qual pesa mais no bolso?”, questionou Ferreira.
Sobre o departamento de A&B (Alimentos & Bebidas), o gerente do Atlante Plaza disse que o setor é estratégico no quesito hospedagem e experiência do cliente. “No caso do Atlante Plaza, em que a alimentação é opcional e agrega receita ao empreendimento, a equipe deve estar ciente dos números para emponderá-la nas decisões do dia a dia”, finalizou.
Debate sobre tecnologia e IA abre programação do FHAN 2025
Dando início ao FHAN (Fórum de Hospedagem e Alimentação do Nordeste) 2025 que segue até amanhã (6) dentro da programação da feira HFN (Hotel & Food Nordeste), no Pernambuco Centro de Convenções, o primeiro tema debatido foi Como a tecnologia e IA podem melhorar os processos do seu hotel?, com apresentação de Fellipe Sabat, superintendente de Negócios do Porto Digital.
O painel também contou com a colaboração de Rui Belfort, CEO da TDS Company. O FHAN é realizado pela ABIH-PE (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis de Pernambuco), com apoio da Secretaria de Turismo e Lazer do Recife e curadoria do Hotelier News.
De acordo com Sabat, a forma como o turista passou a usar a tecnologia mudou a partir de meados de 2023. “Cada vez mais o turista passou a buscar uma experiência personalizada através do ChatGPT, Gemini e outros aplicativos para ter informações sobre o destino e hospedagem. A IA pode elevar em 25% a satisfação dos hóspedes com soluções personalizadas e, segundo uma pesquisa da McKinsey & Company, 70% dos turistas preferem experiências personalizadas”, defendeu.
O palestrante elencou, ainda, desafios da transformação digital e da inovação no turismo em Pernambuco. “Falta de infraestrutura digital, como o próprio acesso à internet, resistência à digitalização, especialmente entre pequenos empreendedores, falta de capacitação e poucas turistechs estão entre os principais”, afirmou.
Outros insights
Segundo Sabat, o Porto Digital atua também ajudando a captar recursos. Além disso, o hub indica startups para auxiliar os negócios com diferentes finalidades. Em seguida, ele convidou Belfort para falar sobre estratégia figital de transformação na hotelaria e gastronomia. O executivo da TDS Company relembrou a aceleração da tecnologia e o seu uso após a pandemia. “Em 2025, veio uma segunda onda com o lançamento do ChatGPT e uso da IA no dia a dia dos negócios”, explicou. “O mundo é físico e continua sendo importante, mas ele é amplificado pelo digital e orquestrado de forma social”, continuou.
Belfort pontuou que, atualmente, existe um mundo de plataformas que dividem a atenção do cliente. “As jornadas no mundo digital devem ser usadas para mudar a experiência do cliente e, assim, a empresa ser recompensada fazendo a empresa prosperar”, disse. “É necessário fazer parte dessa transformação digital para ter sucesso no seu negócio. O uso de estratégia, design e dados é um diferencial competitivo”, definiu.
(*) Crédito das fotos: Hotelier News
