Abrindo as rodadas de mesas redondas temáticas do SAHIC Latin America and The Caribbean, aberto hoje (24) pela manhã, no Fairmont Copacabana, no Rio de Janeiro, o bate-papo sobre Inovação, Tecnologia, Arquitetura/Design, F&B e Talento: preparando projetos de hospitalidade para o futuro explorou soluções escaláveis, design consciente e estratégias centradas em pessoas para os hotéis de amanhã.
Ricardo Manarini, country manager Brazil da BWH Hotels; Pedro Cardoso; VP Procurement Astore Accor Americas PM&E Division; Fernanda Bertolini, senior director Design and Project Management CALA da Marriott International; Juan Carlos Ordoñez, diretor de Desenvolvimento do Grupo SIXSTAR Hotels; Liora Haymann, managing director da OBMI; Victor Venâncio Dias, director of Digital Solutions Latam do SAMSON GROUP; Gabriela Patocchi, VP da EDSA; e Carolina Pinheiro, VP Development LATAM da Wyndham Hotels & Resorts participaram do painel moderado por Amrita Bhalla, managing director da A.B Consulting.
O debate tinha como tema central melhorar a experiência dos hóspedes e impulsionar a rentabilidade para proprietários e investidores. Amrita abriu a conversa trazendo a inovação para o centro da mesa. Dias iniciou o bate-papo entre os painelistas falando sobre o impacto da IA (Inteligência Artificial) no segmento hoteleiro.
“O ChatGPT surgiu e, de repente, todos começaram a falar sobre IA, mesmo sabendo ou não o que isso significa. Quando levamos isso para dentro de uma empresa, estamos moldando não apenas o futuro, mas o presente, pois aqueles que não usam a tecnologia estão perdendo diferencial competitivo”, pontuou o executivo.
Dias destacou que, sem uma estratégia previa, a transformação digital é falha. O diretor do SAMSON Group ainda elencou três pilares para elevar o uso de novas ferramentas: otimização de processos, cultura empresarial e organização estrutural. “Quando falamos de pessoas, estamos falando de indivíduos. Porém, quando falamos de cultura, é sobre toda uma organização”.
Ele também exemplificou uma forma de utilização da IA na companhia alemã. A rede adotou a tecnologia para prever possíveis falhas nos equipamentos dos empreendimentos. “É um ponto que toca no Ebtida, pois se um equipamento falha, isso pode comprometer a experiência do cliente.Antecipar esse problema te dá tempo para se organizar e evitar surpresas — o que pode poupar muito dinheiro”.
Cardoso contou no painel do SAHIC que a jornada de IA da Astore começou há três anos, com estudos de como a tecnologia poderia ser aplicada no setor de compras. “Começamos fazendo análises de riscos de fornecedores com informações públicas. Temos uma plataforma que é um marketplace que oferecemos aos proprietários, onde somos uma ferramenta one stop shop”.
Agora, a plataforma de procurement da Accor vem expandindo sua digitalização a partir do uso de dados de seus mais de 500 hotéis encontrados na base da Astore. “Estamos capturando dados e consolidando informações para oferecer as melhores condições aos nossos clientes”.

Design como contador de histórias
Fernanda destacou no bate-papo do SAHIC que a Marriott utiliza a tecnologia para o desenvolvimento de projetos. Segundo a executiva, o uso da IA ajuda a reduzir o tempo de andamento de um novo empreendimento. “É um divisor de águas e as marcas estão se adaptando a isso. Para a Marriott, inovação é importante. Temos um laboratório e um hub de inovação onde testamos novos produtos e marcas”.
Para Liora, a concepção de um projeto precisa contar uma história. Neste sentido, a OBMI utiliza a IA para explorar novos designs e criar opções de layout, sempre em busca de entender as expectativas dos clientes. “Temos que analisar possibilidades. Primeiro, analisamos o local, sua natureza no entorno, topografias e cultura. Todo projeto tem que ter uma história, algo a dizer, uma identidade própria”, disse a executiva, que também destacou a importância dos espaços se conectarem da forma certa entre si.
A&B e ESG
Para a executiva da Marriott, ações de sustentabilidade, como a adoção de eficiência energética, por exemplo, são mais comuns em hotéis de luxo, porém ainda pouco vistas em empreendimentos midscale. “Precisamos implementar essas iniciativas nesses segmentos, pois os hóspedes esperam por isso”.
Maria Carolina complementou ressaltando que, entre famílias com crianças, a preocupação com a sustentabilidade é ainda maior. “São hóspedes que preferem pagar mais caro para ter sustentabilidade em suas hospedagens, pois entendem a importância. É algo também geracional. Hoje, a Wydham possui o programa Wyndham Green, que ajuda proprietários a implementarem ações reais de ESG em seus empreendimentos”.
Manarini trouxe insights sobre as diferenças do setor no Brasil para os demais países. “Para entender o mercado, muitas vezes precisamos pensar localmente. E percebi isso enquanto pertencente a uma marca internacional. No fim do dia, principalmente no Brasil, precisamos desse equilíbrio, pois gastamos em dólar, mas nosso cliente paga em reais”, reforçou.
Ordoñez fechou o debate do SAHIC falando sobre cases de remodulação do A&B e seus impactos nas receitas. “Melhoramos o design e renovamos a gastronomia de quatro hotéis. Os hóspedes vêm ao destino para ter mais experiência e o A&B é um elemento chave. O que antes era apenas uma pequena receita para os empreendimentos agora é uma ferramenta de rentabilidade”.
Branded residences como agregadores de valor
Residenciais de marca estão ganhando cada vez mais espaço no mercado — inclusive no Brasil. Muito além das grandes redes internacionais, já observamos empresas nacionais investindo neste modelo de negócios como agregador de valor aos novos projetos. No SAHIC, executivos debateram essa tendência que mistura luxo e hospitalidade.
Com o aumento dos custos de construção e as crescentes expectativas dos clientes em relação às comodidades, as residências de marca surgiram como um componente essencial no desenvolvimento de luxo, seja em áreas urbanas ou resorts.
Para explorar o tema, o SAHIC convidou Luis Mirabelli, VP de Desenvolvimento da Accor para o Caribe e Países Hispânicos da PM&E Division; Michael Leon Volko, diretor sênior de Desenvolvimento da Marriott International para a América Latina e Caribe; Cristiano Gonçalves, VP de Desenvolvimento da Hyatt Hotels para América do Sul e Caribe; Maria Carolina Pinheiro, VP de Desenvolvimento de Novos Negócios da Wyndham Hotels & Resorts para a América Latina; Paulo Mancio, diretor executivo da CBRE Hospitality; além de Vinicius Medeiros, editor-chefe do Hotelier News como moderador do painel.
Segundo a executiva da Wyndham, colocar residenciais de marca em novos projetos é a promessa de experiência, serviços, facilidade e segurança. “Nossa região é diferente de outras, como Ásia e EUA. É mais fácil para o incorporador incluir branded residences, pois reduz os riscos do projeto, além de ser uma oportunidade de crescimento para o setor hoteleiro”.
Mancio salientou que os residenciais de marca geram valor com o VGV (Valor Geral de Vendas). “Esse fator sempre tem uma influência positiva. É uma solução que gera valor, segurança, organização e governança de condomínio. Estive em Dubai, onde as branded residences levam a chancela de marcas de luxo”.

Atrativos
Mirabelli enxerga um alto poder de atração de compradores como um diferencial das branded residences — mesmo que com marcas locais. “É algo que se destaca da oferta existente. Na Argentina, há projetos de branded residences com marcas locais que transmitem valor no ativo imobiliário”.
Para o executivo da Accor, os residenciais podem trazer equilíbrio para os projetos com o uso das marcas. “Há um potencial de comprador que identifica no empreendimento a experiência de viver a marca”, analisou.
Volko destacou fatores mercadológicos para o crescimento da oferta de residenciais de marca, como o crescimento da classe média, por exemplo. “Cada desenvolvedor cria um produto com uma marca que gera valor e que o comprador se identifica, além do serviço que é oferecido”, disse o executivo, que ainda pontuou as facilidades de financiamento no caso de branded residences.
O VP da Hyatt afirmou que o valor agregado por metro quadrado é um dos elementos de atratividade para os operadores. “Além da velocidade da venda. O mais importante, como operador, é que temos competência de marca”.
Mirabelli explicou que cada projeto possui sua particularidade — e o incorporador precisa entender qual marca faz mais sentido para determinado empreendimento. “Cada marca representa uma experiência. Há muitos detalhes envolvidos”.
Só luxo?
É fato que as branded residences se tornaram tendência em projetos de luxo. Mas será que o modelo de hospedagem não funciona em outros segmentos e categorias? Para Maria Carolina, faz sentido desenvolver residenciais de marca em diferentes nichos de mercado.
“Já temos marcas como o Ramada Residences e o Wyndham Residences, além de soft brands focadas em branded residences”.
Mirabelli ponderou que tudo vai depender se a marca tem atratividade para o público comprador. “Hoje, temos 50% de nossas branded residences em marcas premium”, finalizou.
(*) Crédito das fotos: Hotelier News