quinta-feira, 6/novembro
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Selic estaciona em 15% e debate sobre cortes ganha força

O Copom (Comitê de Política Monetária) decidiu manter a taxa Selic em 15% ao ano, conforme anunciado ontem (5). A decisão, amplamente esperada pelo mercado financeiro, confirmou o consenso entre analistas, mas abriu espaço para divergências sobre os próximos passos da política monetária, aponta a Folha de São Paulo. Enquanto parte dos economistas aposta em cortes já em dezembro, outros acreditam que ainda não há condições para reduzir os juros.

Entre os que defendem uma redução mais rápida, o argumento central é a combinação entre a desaceleração econômica e a queda recente da inflação. Esses analistas também citam o movimento do Fed (Federal Reserve), que reduziu os juros dos Estados Unidos em 0,25 ponto percentual na semana passada. Juros menores no mercado americano tendem a valorizar moedas de países emergentes, como o real, favorecendo o controle inflacionário no Brasil.

Segundo Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, esse movimento já é perceptível ao longo do ano. Ele observa que a taxa básica elevada e a valorização do câmbio impulsionaram o ingresso de capital estrangeiro e o interesse de investidores por títulos brasileiros de renda fixa. Para Vale, o início da trajetória de queda da Selic deve ocorrer apenas em janeiro de 2026. Ele aponta dois fatores que justificam a manutenção dos juros em nível alto: a inflação de serviços e a taxa de desemprego ainda baixa.

Com a inflação em queda, manter a Selic em 15% representa um aumento da taxa real de juros. A expectativa, segundo ele, é que o Copom reduza gradualmente os juros a partir de janeiro, acompanhando o ritmo de desaceleração dos preços.

Já Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galápagos Capital, avalia que o ciclo de flexibilização monetária poderia começar ainda em dezembro. Ela lembra que “a taxa de juros real está elevada há 10 meses — maior período desde a adoção das metas de inflação, em 1999 — e a política monetária foi eficiente”. Para ela, “não é necessário manter esse grau de aperto por muito mais tempo, estamos vendo a inflação corrente caindo”.

Ela destaca que os preços livres, não controlados pelo governo, e os do atacado estão em patamares baixos, o que reduz a pressão sobre o varejo. Segundo ela, as expectativas de inflação de longo prazo têm se aproximado da meta de 3%, e a economia começa a dar sinais de desaceleração após um breve “repique” em agosto.

Na visão de Alex Agostini, economista-chefe da Austin Ratings, o Copom só deve iniciar os cortes em março de 2026. Ele ressalta que há forte indexação de preços no país — especialmente de tarifas e aluguéis —, o que limita o efeito da política monetária. Para Agostini, a inflação deve alcançar uma “zona de conforto” apenas a partir de março de 2026, quando o acumulado em 12 meses deve ficar próximo de 3,8%, ante os atuais 5,17%.

Análise

Como a decisão de manter a Selic já era esperada, o foco dos analistas se voltou para o tom do comunicado do Copom. Marcos Moreira, sócio da Garten Capital, observa que o texto manteve a orientação de uma política monetária contracionista por um “período bastante prolongado”.

Na mesma linha, Pedro Cutolo, da ONE Wealth Management, também chamou atenção para o caráter conservador do comunicado. Marcelo Bolzan, planejador financeiro e sócio da The Hill Capital, avaliou que houve um “pequeno ajuste” no texto, reconhecendo o arrefecimento da inflação, mas ainda insuficiente para justificar cortes neste ano. “A inflação ainda está acima do teto da meta”, observou.

Para José Márcio Camargo, economista-chefe da Genial Investimentos, o comunicado “foi bastante consistente com o teor da reunião anterior, sinalizando a manutenção de uma política monetária contracionista”.

Reflexo na hotelaria

A manutenção da Selic em 15% ao ano tende a produzir efeitos importantes sobre o setor hoteleiro brasileiro, tanto no curto, quanto no médio prazo. Com o custo do crédito ainda elevado, o investimento em expansão, modernização e inovação de empreendimentos continua limitado. Projetos de novas unidades, reformas e digitalização de operações tornam-se mais caros, o que pode frear planos de crescimento de redes e hotéis independentes.

Além disso, os juros altos afetam diretamente o comportamento do consumidor. A renda disponível das famílias permanece pressionada, e o financiamento de viagens ou o uso de crédito para lazer tornam-se menos atrativos. Isso reduz a demanda doméstica por hospedagem, especialmente fora das grandes temporadas ou destinos de turismo corporativo.

Por outro lado, a valorização do real diante do dólar — estimulada pela diferença de juros entre Brasil e Estados Unidos — pode favorecer o turismo internacional de saída, mas também impactar a competitividade dos destinos brasileiros para estrangeiros. Ainda assim, o fluxo de negócios e eventos tende a se manter estável, já que grandes centros continuam atraindo congressos e feiras, apoiados por uma demanda corporativa mais previsível.

Se o Copom iniciar o ciclo de cortes em 2026, como parte dos economistas prevê, a hotelaria poderá respirar com custos de financiamento mais baixos e estímulo ao consumo interno. Isso abriria espaço para retomada de investimentos, novos projetos e reposicionamento de marcas, num cenário de crescimento mais equilibrado e sustentável para o setor.

(*) Crédito da foto: Divulgação

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