Orlando de Souza - entrevista MP Trabalhista_capaSouza: suspensão de contrato e seguro-desemprego são alívio insuficiente

Quem vem acompanhando as reportagens recentes do Hotelier News sabe exatamente ao que o presidente executivo do FOHB (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil) se refere. Sim, a hotelaria aguarda com ansiedade o texto da MP (Medida Provisória) que permitirá a suspensão do contrato de trabalho, com o governo federal pagando seguro-desemprego (ou parte dele) ao trabalhador. A medida deve ser anunciada ainda esta semana e mostra sensibilidade do governo ao tema após revogação de trecho da MP 927 que tratava do assunto.

“Estamos na expectativa. Sem isso, teremos demissões em massa”, revela Orlando de Souza, acrescentando que a entidade vem mantendo Patrick Mendes, CEO da Accor para a América do Sul, como principal articulador com o governo federal. “Além de comandar a maior operadora do país, leva com ele experiência do que está ocorrendo no exterior. No entanto, estamos nos bastidores trabalhando muito para subsidiá-lo com informações”, completa.

Souza destaca que a suspensão dos contratos e o seguro-desemprego representariam alívio para o setor, mas apenas momentâneo. “Diria que por dois meses, no máximo. É de fundamental importância, mas não suficiente”, comenta. Por isso, o executivo explica que a hotelaria colocou outros dois pleitos na mesa nas negociações com o governo: linhas de crédito para capital de giro e moratória de tributos e de recolhimentos previdenciários. 

Em relação às linhas de crédito, uma das preocupações é assegurar que a liquidez jorrada pelo governo efetivamente chegue às empresas. No sábado (28), Paulo Guedes reconheceu que este é desafio grande, já que bancos privados não abrirão mão de garantias. Ontem (29), três instituições (Bradesco, Itaú e Santander) disseram que companhias que estejam em dia com folha de pagamento e dívidas poderão acessar o programa voltado para PMEs.

Orlando de Souza - entrevista MP Trabalhista_interna2Para Souza, crédito será vital para garantir capital de giro aos hotéis

“Antes de tudo, é importante destacar que esse programa divulgado semana passada atende só à parte da hotelaria, mas a preocupação vale para outras linhas de crédito”, diz Souza.  “Em muitos casos, hotéis não tem ativos para balizar as operações de financiamento. Se o crédito for acessado por bancos públicos, fica mais fácil. No caso dos privados, seria importante o governo criar mecanismos de garantia para avalizar as operações”, acrescenta.

Orlando de Souza: e após o furacão?

É difícil prever o tempo exato de recuperação da demanda, embora tudo indique que será lenta. Se repetirmos a China, em cinco semanas volta a crescer, mesmo que timidamente. Em linha com a projeção da HotelInvest para São Paulo, Souza acredita que a hotelaria encerra 2020 com 35% de ocupação. “É um ano perdido, um problema gravíssimo”, pondera Souza. “Ainda assim, tudo correndo bem, podemos pensar em retomada já em 2021”, acredita.

Para chegar lá, contudo, o presidente executivo do FOHB externa sua preocupação com uma possível guerra tarifária após o “olho do furacão” passar. “Vamos subsidiar o mercado com dados para que os hotéis possam precificar adequadamente. Hoje, só mapear a cesta competitiva não é mais suficiente”, afirma Souza. “Há muito tempo lutamos para que os hotéis usem ferramentas de BI (Business Intelligence). Talvez a crise acelere esse movimento”, diz.

(*) Crédito das fotos: Divulgação/FOHB