O ano de 2025 começou com uma pergunta importante: será que a perda de fôlego do mercado de trabalho, esperada há três anos por economistas, vai enfim acontecer? Em novembro de 2024, o desemprego chegou ao menor nível da série histórica, e o mercado começa a dar sinais incipientes de desaquecimento, aponta o Valor Econômico.
Ainda assim, economistas esperam que o cenário para o emprego seja relativamente estável ao longo deste ano. Essa perspectiva permanece apesar da escalada dos juros, inflação, dólar e também da menor presença do chamado impulso fiscal, que se caracteriza pelo aumento dos gastos públicos em intensidade, estimulando a atividade econômica.
Dessa forma, o crescimento do desemprego deve ocorrer apenas de forma gradual e somente após o primeiro trimestre. Em boa medida, o trabalho acompanha o desempenho mais amplo da economia, que também deve esfriar após quatro anos de expansão na casa de 3% ou mais. A última mediana da pesquisa Focus, do BC (Banco Central), aponta crescimento de 2,01% no PIB (Produto Interno Bruto) em 2025.
“O cenário-base é de desaceleração da alta do PIB, que levaria o emprego também a desacelerar. Mas o mercado está tão aquecido que podemos ter nova surpresa positiva”, afirma Bruno Imaizumi, economista da LCA Consultores.
Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) para o trimestre encerrado em novembro de 2024 apontam para a continuidade do aumento da ocupação e redução do desemprego. O número de pessoas ocupadas cresceu 1,4% ante o trimestre imediatamente anterior, para 103,9 milhões, atingindo mais uma vez um recorde da série histórica iniciada em 2012.
Além disso, o número de desempregados caiu 7% na mesma base comparativa, chegando a 6,8 milhões de pessoas, menor índice de desocupados desde o fim de 2014. A taxa de desemprego recuou para 6,1% e criou um novo piso para o indicador. A renda, por sua vez, cresceu 0,7% frente ao trimestre anterior, chegando a R$ 3,2 mil.
Projeções
Analistas da XP estimam que o desemprego fique em 6,3% em 2024 e em 6,8% ao final de 2025. “Vale notar que nossas projeções estimam geração líquida de 1,05 milhão de vagas formais em 2025. Isso significa 90 mil postos criados por mês”, diz o economista Rodolfo Margato.
Foram três anos seguidos (2022, 2023 e 2024) em que as expectativas de menor ritmo de emprego foram frustradas. A transição lenta prevista para o mercado de trabalho neste ano ocorre pelo próprio fato de que a economia deve perder ritmo apenas de forma gradual, mas também pode ter raízes em outros fatores.
Entre eles, estão o efeito de novas tecnologias de intermediação e criação de vagas de emprego e a dinâmica da renda, que continua em alta e alimenta a roda do consumo e emprego.
Outros dados
Alexandre Teixeira, economista da MCM, destaca um sinal de que a reversão na tendência de emprego pode estar distante. Com base em um estudo do FED (Federal Reserve), banco central dos EUA, ele analisou 12 indicadores de emprego divididos em dois índices: nível de atividade e taxa de variação (ou “momentum”). Esses índices mostram a posição de um ponto em relação à média histórica, representada pelo nível neutro (zero), e ambos permanecem acima desse parâmetro.
Em novembro, o índice de atividade atingiu 1,4 ponto, o maior valor já registrado na série histórica. Já o “momentum” alcançou um pico em meados de 2021, período em que o país começou a flexibilizar as quarentenas após o avanço da vacinação. Desde então, tem mostrado uma leve tendência de queda, mas ainda mantém níveis elevados.
“O indicador de ‘momentum’ vem apresentando queda há algum tempo, refletindo sinais pontuais de desaceleração. No Caged, por exemplo, o saldo de contratações formais registrou uma desaceleração significativa recentemente”, explica Teixeira.
Embora sejam indícios de desaceleração, Teixeira ressalta que estão longe de indicar uma alta do desemprego. “Esses índices só indicariam reversão de tendência caso ambos se aproximem de zero”, afirma.
Daniel Duque, pesquisador do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas), ressalta que o aumento da renda no Brasil também reflete os avanços na educação. “Estudos mostram que a população entre 25 e 39 anos, principal força de trabalho do país, foi a que mais se beneficiou da expansão de escolas e universidades. Com a melhora na escolaridade, há ganhos em produtividade e, consequentemente, na renda do trabalho”, conclui.
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