Um dos setores que mais ganharam força no pós-pandemia, o turismo deve faturar R$ 203,5 bilhões em 2024, segundo projeção da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo). A cifra representa alta de 4,2% em receita em relação ao ano passado.
Caso se consolide, o número será um recorde absoluto da série histórica da entidade, visto que o melhor resultado para o turismo foi registrado em 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, com faturamento de R$ 198 bilhões. Entre os fatores que explicam a estimativa para 2024, estão o aumento dos investimentos de empresas que, em correlação com o bom ritmo do PIB (Produto Interno Bruto), estão expandindo os gastos em viagens corporativas. Soma-se a isso a alta significativa da demanda de consumidores por serviços turísticos.
No primeiro caso, o crescimento de feiras e eventos em grandes centros do país, sobretudo em São Paulo, além dos outros objetivos das viagens corporativas, contribuirá significativamente para que os gastos das companhias nesses serviços subam pelo menos 6% neste ano, segundo cálculos da FecomercioSP em parceria com a Alagev (Associação Latino-Americana de Gestão de Eventos e Viagens Corporativas).
Este patamar, inclusive, é o mesmo apontado em uma projeção recente da GBTA (Global Business Travel Association). Dados como esse se verificaram, na prática, ao longo de 2024, com diversos deslocamentos de equipes inteiras de empresas para conferências, congressos e encontros.
Demanda dos consumidores impulsiona o setor
O cenário positivo para o setor de turismo é explicado principalmente pela crescente demanda dos consumidores. Essa procura reflete a conjuntura econômica atual, marcada por baixo desemprego, que ficou em 6,2% no trimestre encerrado em outubro, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e aumento da renda real. Além disso, negociações salariais realizadas ao longo de 2023 garantiram reajustes que, de acordo com o Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), ficaram entre 80% e 90% acima da inflação.
Outro fator determinante é a maior disponibilidade de crédito, que apresentou um crescimento real de 9,6%, conforme dados bancários. O crédito, preferido pelos turistas como forma de pagamento, viabiliza o parcelamento de compras. Segundo a Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), 65% das vendas de produtos turísticos no Brasil em 2023 foram feitas via cartão de crédito.
Projeções
Em 2024, o segmento de Locação de Meios de Transporte deve liderar o crescimento do setor, com alta projetada de 12% e receita total de R$ 27,8 bilhões. Outros setores tradicionais do turismo também devem apresentar resultados positivos, como Alimentação (7,6%), Hospedagem (7,3%) e Atividades Culturais, Recreativas e Esportivas (7%).
A continuidade do bom desempenho está prevista para 2025, com estimativa de faturamento de R$ 211 bilhões, aumento de 3,8% em relação às projeções de 2024, conforme a FecomercioSP. No entanto, o cenário econômico apresenta desafios. O esperado aumento da taxa Selic e as incertezas fiscais devem encarecer o crédito e reduzir o ritmo de crescimento no segundo semestre. Além disso, o dólar elevado impacta os custos das empresas, influenciando tanto o mercado interno, quanto o comportamento dos turistas brasileiros, que podem optar por destinos nacionais em detrimento de viagens ao exterior.
Outro desafio será o preço das passagens aéreas, que devem permanecer altos devido à valorização do dólar. Como mais da metade dos custos das companhias aéreas está atrelada à moeda estrangeira, itens como aluguel de aeronaves, combustível e manutenção tornam-se mais caros, refletindo no valor final dos bilhetes.
Setores em destaque
Para 2025, a Locação de Meios de Transporte deve crescer 9,2%, consolidando-se como o principal motor do setor. Alimentação também apresentará alta significativa (8,5%), enquanto a Hotelaria deverá crescer em ritmo mais lento, com projeção de 2,3%.
Mesmo com perspectivas otimistas, o empresariado do turismo enfrenta desafios significativos. A partir de janeiro, o Perse (Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos) terá redução de atividades beneficiadas, o que resultará em aumento da carga tributária e, consequentemente, elevação de preços para os consumidores.
A Reforma Tributária, com a implementação do novo IVA (Imposto sobre Valor Agregado) de 28%, também pode prejudicar a competitividade do turismo nacional, sobretudo em comparação com países vizinhos que oferecem isenção ou alíquotas reduzidas para o setor.
Outro ponto crítico será a retomada da exigência de vistos para turistas de países como Canadá, Austrália e Estados Unidos, a partir de abril. Essa medida deve impactar negativamente a entrada de visitantes provenientes desses mercados, conhecidos pelo alto gasto médio e estadias prolongadas.
(*) Crédito da capa: Pixabay
(**) Crédito da tabela: Divulgação/FecomercioSP