Fechar ou não fechar - José Ernesto MarinoPara Marino, impacto na ocupação está apenas no começo

Na China, onde tudo começou, a medida já havia sido tomada há certo tempo por grandes redes internacionais. Em mercados centrais, como nos Estados Unidos, já se trata de uma realidade. No Brasil, com a epidemia de coronavírus se alastrando rapidamente, os efeitos na hotelaria já são visíveis. Restrição de voos, cancelamento de eventos, queda de ocupação… razões não faltam para o hoteleiro pensar na paralisação das atividades durante certo tempo, mesmo sem determinação expressa do governo.

De fato, alguns hotéis já fazem esse movimento, caso Bourbon Ibirapuera, em São Paulo. O Grupo Tauá de Hotéis tomou o mesmo caminho, paralisando as atividades de suas três unidades. Muito provavelmente isso é só o começo, pois ainda estamos um pouco distantes do pico dos efeitos negativos que a epidemia pode causar, seja em número de casos e morte ou mesmo dos estragos na economia. Mesmo com impossibilidade de se prever o que vai ocorrer ao certo, o Goldman Sachs já fala em PIB (Produto Interno Bruno) negativo no Brasil este ano, ante uma estimativa de expansão de 2,2% feita em fevereiro.

Como o desempenho da hotelaria anda lado a lado com o PIB, já se pode prever efeitos nefastos na performance do setor este ano. “Estamos vendo algo inédito. Sinto-me em um filme de ficção científica, no qual o planeta está saindo de férias coletivas. É impossível não haver impacto na ocupação, que pode chegar a percentuais próximos a zero”, avalia José Ernesto Marino, presidente da BSH International. “Neste cenário, acredito que faz sentido fechar o hotel, sim”, completa.

Para Marino, talvez operadores de hotéis bandeirados com contratos de gestão fiquem mais relutantes em paralisar as atividades. “Na direção inversa, se a empresa administradora aportou capital no ativo, ela certamente vai fechar para querer limitar suas perdas”, acredita. “Olhando do ponto de vista do investidor, quem tem contratos de arrendamento certamente sofrerá menos, pois quem paga conta é o inquilino, ou seja, o operador hoteleiro”, completa.

Fechar ou não fechar - Ricardo MaderMader: é preciso lembrar que reabrir o hotel pode ter altos custos 

Coronavírus: avaliações

Para Ricardo Mader, diretor de Hotéis e Hospitalidade da JLL, a decisão deve ser bem pensada. “Entendo que se trata de uma avaliação caso a caso. É preciso olhar a praça, o tipo de produto a complexidade da operação… Enfim, são vários fatores a serem analisados antes da tomada de decisão”, acredita. "Até porque, o custo para reabrir depois é grande”, pondera.

Para os dois especialistas ouvidos pelo Hotelier News, o hoteleiro precisa analisar com atenção quatro fatores:

(1) A propriedade em si: analisar praça, tipo de produto, tempo de serviço, momento do mercado, estrutura de custos e o quadro de funcionários. Hotéis recém-abertos, por exemplo, têm gastos trabalhistas mais baixos para casos de desligamentos.

(2) O time de funcionários: analise o banco de horas e pesquise se há muita gente com férias vencidas. Se houver, talvez seja uma boa decisão paralisar a operação.

(3) Geração de receitas: se o hotel é muito dependente de eventos, por exemplo, não há razão para manter as atividades. Se a unidade for econômica e corporativa, talvez a demanda existente compense continuar aberto.

(4) Caixa disponível: ponto determinante da equação. Se o hotel está com a corda no pescoço, a decisão é óbvia. Se ainda há um fundo de reserva para usar, analise as demais questões e não hesite na escolha.

Obviamente, caso a decisão seja mesmo pelo fechamento, não basta trancar a porta do hotel e deixá-lo vazio. É preciso deixar uma equipe mínima para garantir a segurança e a manutenção. Além disso, é fundamental manter uma time para receber ligações telefônicas. Vale destacar que serviços de chatbot podem representar menos custo.

(*) Crédito da capa: João Marcelo Martins/unsplash

(**) Crédito da foto: Divulgação/BSH International

(***) Crédito da foto: Divulgação/JLL