rio de janeiro - reabertura - internaCidade Maravilhosa está entre os destinos mais procurados por brasileiros

Dando continuidade à série de reportagens que analisa a retomada nos estados do Brasil, o Hotelier News visita o Rio de Janeiro, após passagens pela Bahia, Minas Gerais e Pernambuco. Com as fronteiras ainda demonstrando incertezas no turismo internacional, o brasileiro volta a conhecer o próprio país. Seguindo as apostas em destinos domésticos, o Rio de Janeiro é um dos destaques nas rotas dos turistas. É o que disse a pesquisa do Booking.com, que indica a Cidade Maravilhosa no topo do ranking de interesse nacional, no último mês de julho

Segundo José Domingo Bouzon, vice-presidente do Hotéis Rio, a retomada ainda acontece de forma demorada na região. "No meio de todo esse processo, nós chegamos a ter 90 hotéis fechados", conta. Em agosto, com o início do retorno das atividades, a associação ainda contabilizou cerca de 70 empreendimentos fechados.

Sobre a retomada, em mapeamento realizado pela entidade, constatou-se que a maioria dos empreendimentos apurados (51,43%) ainda não possui previsão para volta. Já 17,14% pretendem reabrir as portas ainda neste mês e 24,28%, em setembro. Enquanto 1,43%, projeta abertura para novembro e dezembro. Outros 4,29% tem perspectiva de retorno apenas para 2021. A pesquisa registrou também que sete estabelecimentos fecharam definitivamente na cidade.

A taxa de ocupação também apresenta um crescimento lento, atualmente na faixa dos 25 a 30% e o setor estima que a recuperação pode demorar até quatro anos. Nos últimos quatro meses, a hotelaria carioca acumulou um prejuízo estimado em R$ 850 milhões e cerca de 20 mil empregos diretos estão suspensos.

Nos hotéis que se mantiveram abertos durante todo o tempo, as margens chegaram até mesmo a 1%, entre abril e maio, é o caso, por exemplo, do Hotel Othon. Segundo Jorge Chaves, gerente corporativo de Vendas, Marketing e Operações da rede, a expectativa é maior para o próximo mês. "A perspectiva é de quase 30% para setembro", conta. 

 rio de janeiro- jose buzonBuzon: chegamos a ter 90 hotéis fechados no Rio

Perfil do turista no Rio de Janeiro

Ainda segundo Chaves, o perfil do turista que ocupa os hotéis hoje é o próprio carioca, que busca sair do ambiente "quarentenado" e quer relaxar. Dentre as prioridades dos hóspedes, o gerente aponta a segurança e com isso realça a importância dos selos que garantem a aplicação das medidas e protocolos.  "E obviamente conforto, tranquilidade, desfrutar de um grande mar, esse tem sido o objeto de de procura de perfil um pouco mais do nosso cliente", complementa.

Ainda sobre o viajante brasileiro, o executivo diz que há um movimento de redescobrimento do país impulsionados pelo mercado de luxo por aqueles que costumavam visitar o exterior. "Em 2019, US$79 bilhões foram gastos por brasileiros no exterior. Isso cria uma boa perspectiva para nosso período de alta ocupação, como Réveillon e Carnaval. Eu entendo que precisamos rever o nicho do nosso cliente. Hoje não atrairemos os mesmos hóspedes, mas uma nova fatia do mercado procurará aquilo que nós hotéis oferecemos".

A região também recebe turistas de outros estados. "Em primeiro lugar o paulista tem vindo muito para o Rio de Janeiro, depois o próprio carioca", pontua Bouzon. "Outros que tem vindo bastante também são os turistas de Minas Gerais e Brasília", complementa.

Além do processo de nacionalização do turista no Rio de Janeiro, outra mudança que houve no perfil do viajante é quanto ao planejamento. "Antigamente, a antecedência da reserva era com 50 dias. Hoje está sendo com 10 dias de antecedência", revela Bouzon, que também é diretor da rede de hotéis Arena.

Das três unidades da marca, apenas uma se manteve aberta durante a pandemia, em Copacabana. O estabelecimento em Ipanema voltou a operar no fim de julho e o terceiro hotel reabre ainda em agosto. Dentre as estratégias para elevar a ocupação, a marca aposta em tarifas promocionais e ações como Arena Plus. "É um programa de bonificação, com enfoque em reservas pelo próprio site do Hotel", explica

rio de janeiro- jose chavesChaves: expectativa é de 30% de ocupação em setembro 

Desafios para a retomada

A questão das vendas diretas esbarra ainda em outro tema que tem crescido no debate hoteleiro da região: há uma busca por acordos com as OTAs (Online Travel Agency) para redução de tarifas. "Nós fizemos um acordo, um pacote de benefícios que também é interessante para hotelaria, vai aliviar o caixa, uma boa negociação tanto com a Hotel Urbano quanto com a Expedia", revela Bouzon. “Até agora, a única agência que se mostra contrária ao movimento é a Booking.com. "Queríamos fazer uma redução de comissionamento, bater o custo de venda menor, a Booking.com não fez nenhuma redução e a proposta foi até de aumentar", explica.

Outra percalço que a hotelaria carioca enfrenta é quanto às tarifas da Cedae (Companhia Estadual de Águas e Esgotos do Rio de Janeiro). "Muitos parceiros econômicos compreenderam nossa situação, manutenção de elevadores, lavanderia, fornecimentos de alimentos", pontua Bouzon. "Todos entenderam nossa situação, pois perdemos 95% de nossa receita. Com isso, reduziram a manutenção para 50% de cobrança". Entretanto, a Cedae se mostra irredutível na negociação.

Ano Novo e Carnaval

Tradicional destino de queima de fogos, televisionado Brasil à fora, a praia de Copacabana este ano verá uma celebração mais tímida. Ainda com receios de aglomerações devido à pandemia, os hotéis hoje trabalham opções mais íntimas com comemorações particulares.  "No caso do Othon, nós vamos promover nossa própria queima de fogos e procurar atrair um público que talvez não seja o mesmo do ano anterior, que vai procurar algo mais personalizado, algo mais privativo, particular e que não tenha tanta aglomeração como tivemos ao longo das décadas aqui em Copacabana", explica Chaves.

Já em relação ao Carnaval, as especulações são maiores que as definições. Sem confirmação de vacina, a cidade ainda não revela datas para a celebração da principal festa brasileira. "Tudo indica que haverá um adiamento com uma nova data. O que faz sentido, uma vez que as escolas de samba, toda a organização, precisa de mais tempo para que pudesse se organizar", comenta Chaves. "Mas quando o Carnaval for realizado tenho certeza que o Rio de Janeiro será um novo destino de grande procura e esperamos que até lá estejamos comemorando e não mais preocupados com o contágio pelo vírus", especula.

(*) Crédito da capa: eacuna/Pixabay

(**) Crédito da foto: LHcCoutinho/Pixabay

(***) Crédito das fotos: Divulgação